Agradecimento
Entrei
nesta Universidade há 12 anos, no hoje longínquo 1987. Passei no disputado
vestibular de Engenharia Mecânica, logo na minha primeira tentativa,
surpreendendo meus pais, meus amigos e ainda mais a mim próprio. Fiquei
felicíssimo. Adorava mecânica, admirava as máquinas e mecanismos, amava
principalmente a máquina bicicleta, sua perfeição e beleza. Estudava aquela
máquina com fervor. Minha disposição, no começo do curso, era a de uma
locomotiva, nada podia me parar. No entanto, aos poucos meu ânimo foi se
desfazendo. O curso estava bem distante de meus anseios. Era impessoal e
virtual, estudava profundamente questões microscópicas, invisíveis e abstratas.
Tudo que eu queria era estudar coisas palpáveis e com aplicações práticas
positivas na vida das pessoas. As aulas começaram a se tornar extremamente
aborrecidas e os dias pareciam ser todos nublados e frios. Meus colegas eram
todos deprimidos e tinham os olhos toldados. Os professores eram igualmente
sombrios e ameaçadores. Não, aquele não era o curso onde eu iria aprender o que
queria saber.
Passei
a me perguntar onde conseguiria o conhecimento necessário para satisfazer meus
desejos de adolescente. Encontrei a resposta na Educação Física, curso que, me
falaram, era extremamente prático, ligado a realidade e poderia me ensinar
muito sobre o motor da bicicleta: a biomáquina corpo humano. Esta foi a minha
desculpa para entrar nesta faculdade. Sim, eu precisei de uma boa desculpa para
trocar de curso. Para minha família, para a sociedade e até para mim mesmo sair
da engenharia e entrar na Educação Física era um retrocesso vergonhoso.
Comecei meio de lado,
cabisbaixo, fazia duas cadeiras por semestre, meio sem querer. Ao entrar, já no
primeiro dia, senti uma diferença brutal. Era oito e meia de uma manhã fresca
de um dia de outono ensolarado. A aula era ao ar livre, a claridade nos
inundava os olhos e o sol nos enchia de energia. O cheiro de grama molhada pelo
sereno e o canto dos quero-queros preenchiam a atmosfera. O professor Rangel
falava com toda a calma e transmitia muita paz. Eu ignorava por completo o
conteúdo da cadeira: Atletismo. Os colegas eram sorridentes, simpáticos e
comunicativos. E tchê... Mulheres... Metade dos colegas eram gurias, e lindas!
Estávamos todos felizes, as faces resplandeciam, que sonho. O clima destes
primeiros dias, ou melhor, destes primeiros semestres era de um êxtase
eufórico, onde tudo parecia ser possível e a alegria era quase materialmente
palpável em enormes faíscas que saiam dos olhos de todos. De todas as
comunidades de que participei, a ESEF foi, sem dúvida, a mais vivamente feliz.
Onde está a competição entre os alunos? Onde está o
massacre psicológico dos professores? Onde está a depressão e a preocupação?
Onde estão as salas de aulas com cheiro de mofo, bibliotecas escuras, banheiros
depredados e sujos, funcionários irritados e professores frustrados? Não, na
Educação Física estas coisas eram saídas de um livro de ficção que ninguém
tinha lido. Fui ficando, por prazer. Aos poucos fui me apaixonando pelo objeto
de estudo e reconhecendo sua importância na sociedade. Meus preconceitos de
outrora me pareciam cada vez mais absurdos e infundados. Hoje em dia acho o
nosso curso o mais importante que há na universidade para a sociedade. Minha
vergonha, por ter um dia pré-julgado mal os professores de Educação Física,
aumentava na mesma proporção que meu orgulho por ser estudante de assunto tão
atual e indispensável. Passei a ser um aluno entusiasmado e satisfeito, fazia
dez cadeiras por semestre sorrindo. Entrei para um grupo de pesquisa com a professora
Flávia e para a monitoria com o professor Pelé. A ESEF me introduziu a ciência
junto com a gargalhada. O professor Mário sempre dizia, mas eu na época não
compreendia: “Aproveitem ao máximo o tempo que vocês passam aqui, é o tempo
mais feliz de suas vidas, não tenham pressa de sair.” Eu reforço o que ele diz,
a ESEF é surrealmente feliz e eu sinto muitas saudades!
Venho então, por meio desta,
agradecer. Agradeço a todos: colegas, professores e funcionários. Gostaria de o
fazer individualmente, abraçar cada um, mas é difícil, ficaria muito
emocionado, então escrevo. Agradeço pela amizade, pelos sorrisos, pelos abraços
e beijos, por todo afeto, pela acolhida tremendamente carinhosa, calorosa e
festiva que recebi de vocês. Agradeço também a consciência crítica, o saber e a
curiosidade científica. E por fim, agradeço as gurias da ESEF, sua
sensibilidade, competência, perfume, sorriso e alegria, sem falar nas alcinhas,
rendinhas, rabinhos e todo aquele arsenal de coisas que só a mística feminina
tem.
Muito obrigado pessoal!
Tiago de Moraes Alfonsin
Nenhum comentário:
Postar um comentário