Segunda de Carnaval
Trabalhei dez anos na Educação Infantil
em Florianópolis. Acho que a principal lição que aprendi lá foi que para
agradar uma criança não precisa muito. Nada elaborado ou caro. O principal é
estar junto e disposto a interagir. A piada que mais eles riam era curta e
simples. Vou reproduzir aqui embaixo, preste muita atenção, porque requer
sutileza para a compreensão:
Um padre chegou para outro padre
e disse: Oi, padre!
Pronto, era isso, acabou a piada.
Eu gargalhava sentado na rodinha da sala e a turma toda gargalhava junto, com
vontade, era realmente hilário! Às vezes, eu até contava umas duas ou três
vezes em seguida para todos entenderem a piada, a gargalhada seguia farta. Você,
leitor, com certeza maior que cinco anos de idade justamente porque está lendo
isso, talvez não tenha entendido o teor da piada. Sinto muito, não vou
explicar, ela funciona somente com espíritos espirituosos com muita presença de
espírito! Mas, acredite, muitas vezes me paravam no pátio, durante o recreio e
pediam: conta de novo aquela piada do padre?
Outra brincadeira que agradava
sobremaneira era na rua. Eu me “escondia” encostando o rosto nalguma parede.
Então, ia narrando alto o que estava acontecendo e fazendo os gestos
característicos: O monstro está dormindo. O monstro acordou. O monstro se
espreguiça. O monstro da uma bocejada. O monstro faz xixi. O monstro coça a barriga.
O monstro dá um pum.
Uma multidão de pequenos seres acompanhava
meus gestos com muita atenção. Finalmente o monstro sentia fome e sentia cheiro
de criancinhas e, pela primeira vez, olha para baixo. Todos saiam correndo e gritando
e eu atrás com as mãos para o alto em forma de garra, urrando. Uns dez metros
depois eu encostava o rosto noutra parede e todo o processo se reiniciava. O
monstro está dormindo... A brincadeira durava até o monstro, exausto de correr,
desistia e falava que agora não era mais monstro. Relatei essa brincadeira para
minha namorada da época e ela rapidamente me esclareceu: Esse monstro é tu!!!
Hoje pela manhã acordei de um
sonho maluco num tapa. De profundo R.E.M. para vigília foi um segundo.
Restaurada a consciência, lembrei que era segunda-feira de carnaval, a melhor
do ano! Me espreguicei umas três vezes, em diagonal na cama, com toda calma. Fui
fazer um xixi, mas resolvi voltar para cama. Refleti sobre o que poderia fazer
para aproveitar o ócio. Bocejei e me espreguicei de novo, peidei e cocei a
barriga. A ex tinha razão, o monstro sou eu. Mas hoje é segunda de carnaval e
eu não preciso correr atrás de criancinhas.
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