Fake news
No final do
século XIX, os primeiros automóveis começaram a aparecer na Europa. No início,
foram considerados muito silenciosos, a tal ponto que havia uma lei no Reino
Unido que obrigava que caminhando à frente de todo automóvel em deslocamento sempre
viesse alguém tocando corneta e sacudindo uma bandeira vermelha para evitar
acidentes. Não, isso não é uma piada ou invenção minha. Mas entendo porque tu
estás achando engraçado ou absurda essa informação. Contextualize e tente
pensar numa cidade grande daquele tempo, numa hora movimentada, onde todos os
veículos eram de tração animal ou humana. Imagine uma carroça de quatro cavalos
ferrados, troteando por uma rua calçada com granito paralelepípedo. Percebes o
ruído que fazem os cascos na pedra? Agora imagine várias dessas carroças
transitando para lá e para cá o dia todo, mais charretes, carros de boi e
cavalos selados, tropas de burros e mulas de carga. O barulho do “sapateado”
era infernal. Um veículo automotor, com seu ronronar desconhecido, nunca seria
escutado. Para piorar, os cidadãos ainda tinham que conviver com ruas fétidas, cobertas
de esterco e urina de todos aqueles animais. Os primeiros automóveis foram
recebidos com grande entusiasmo pela população por representar uma grande
promessa de solução para o saneamento das cidades.
O entusiasmo
era tanto por aquelas máquinas maravilhosas e impressionantes que rapidamente
se espalharam pelo mundo. Agradaram, apesar de, naquela época, elas serem
frágeis, pouco confiáveis, os próprios fabricantes eram praticamente os únicos capazes
de operá-las, eram feitas uma a uma e muito caras. Mostras, competições e
salões começaram a pipocar por todos os países. No salão do automóvel de Nova
York de 1900, fizeram uma pesquisa entre os visitantes sobre qual seria a fonte
energética do futuro para os carros particulares. Lembrando que havia em
exposição carros movidos a querosene, gasogênio, gasolina, diesel, gás, álcool,
carvão mineral, eletricidade e até lenha.
Somente 5% dos entrevistados citaram a gasolina como a alternativa mais
provável para o século que se iniciava. Os motores de combustão interna eram
complicados, difíceis de lidar, para fazer a maquina funcionar se tinha que acionar
uma manivela pesada que podia ate quebrar sua mão. Os motores à vapor eram os
mais populares e conhecidos, mas outros tipos de motores eram os mais desejados.
No ano anterior um carro elétrico havia sido o primeiro a utrapassar a barreira
dos 100 km por hora e, portanto, os motores elétricos eram os mais promissores
e foram os mais citados naquela pesquisa.
As propostas
eram as mais diversas e as perspectivas econômicas também. O mercado estava em
franca expansão. A companhia de extração de petróleo Standard Oil, dos irmãos
Rockefeller, percebeu a enorme oportunidade que tinha. Na época, detinha o
monopólio da indústria petrolífera americana. Essa empresa começou a fazer
acordos de cooperação com diversos fabricantes de automóveis, financiando
pesquisas e testes, bancando os motores que fossem movidos a gasolina e
garantindo postos de abastecimento do combustível por todo país com um bocal de
abastecimento universal. Ao mesmo tempo, comprava as empresas de transporte
público de bondes elétricos somente para fechar o serviço com alguma desculpa
furada, obrigando os usuários a repensar seu modo de deslocamento urbano. Sim,
tu já deves ter entendido, o capitalismo é assim selvagem. Os fabricantes
competidores do mercado de automóveis usavam todas as armas que podiam para
conseguir mais clientes. Ransom Olds, fabricante da marca Oldsmobile, começou a
fabricar em série automóveis de luxo, barateando e aumentando a velocidade de
entrega dos carros em 1902. Já em 1913, Henry Ford, fabricante dos Ford, aperfeiçoou
a linha de montagem em série para produzir carros populares movidos a gasolina
(que tinha postos de abastecimento por todo o país com bocal universal
garantidos pela Standard Oil). Em 1914, com quatro meses de salário, um
operário da Ford poderia comprar seu próprio modelo T novinho. A grande rede de
postos de abastecimento da Standard Oil, somada a falta de alternativas de
transporte depois da precarização no transporte público provocada pela própria companhia,
a eficente linha de montagem da Ford barateando os custos e a imensa demanda
por carros fez com que os veículos movidos por um motor a gasolina saíssem
vencedores de uma disputa épica. Mas não que fossem os melhores, longe disso.
Havia motores
melhores à época, mais eficientes? Sem dúvida. Um motor elétrico, por exemplo,
tem uma única peça móvel, e é muito mais simples e confiável que um a gasolina
que tem centenas de peças que tem que ser montadas, reguladas, lubrificadas e checadas
regularmente. Em termos de eficiência energética, o motor a combustão interna é
ridiculamente perdulário, somente 40% da energia química contida na gasolina
realmente se transformam em movimento do carro. Ora, então porque atualmente os
carros são quase todos movidos por motores de ciclo Otto a gasolina ou álcool?
A resposta a essa pergunta e aterradora: porque tu foste enganado por várias “fake
news” que te levaram a aceitar uma situação inaceitável. Mercadologicamente o
motor a gasolina é mais interessante porque tem mais coisas a estragar, trocar,
manter, além, é claro, de precisar ser abastecido com gasolina. Se venderem um
carro, garantem anos de consumo de gasolina. Cria-se um mercadão onde haveria
um mercadinho. Tu és o tolo que os Rockefeller enganaram. O troço é um
combustível fóssil! Repare: Fóssil!!! Mas tu acreditas nas propagandas que
dizem que o carro tem um motor de moderna tecnologia. Daí o cara compra aquilo e
sai orgulhoso por ai soltando fumaça da queima de fósseis. Tá mais para uma
fogueira primitiva, do tempo das cavernas... Fóssil, cara... Queimar fóssil!!!
E os caras te enganaram tão direitinho que tu tens que comprar a toda hora um
pouco mais de fósseis apodrecidos para queimar...
Alguém só se questiona
sobre a pertinência do modelo de deslocamento quando acontece algum desabastecimento,
como o causado pela recente greve dos caminhoneiros. Será que os automóveis
particulares movidos à combustíveis são a melhor alternativa? Claro que não,
mas agora, passados mais de 120 anos da adoção do modal, construida toda uma
infraestrutura, redes de distribuição, frotas e cidades inteiras baseadas no
automóvel, fica difícil admitir que erramos. E erramos feio.
O mundo e
feito de “fake news”. Os americanos são sempre professores nessa arte. Em 2011,
depois do ataque terrorista de onze de setembro, os Estados Unidos invadiram e
bombardearam a esmo o Afeganistão com a ridícula desculpa que o mandante dos
atentados estaria escondido lá. Colou, a comunidade internacional se
solidarizou com o pobrezinho do Tio Sam. Na verdade, Osama Bin Laden não estava
lá, o que os americanos realmente queriam era o gás natural que o Afeganistão
tem. Destruiram tudo, colocaram um governo servil e pronto, gás grátis! Nem se
sabe se Osama realmente existiu ou foi só um personagem inventado também.
“Jogaram no mar” o corpo do terrorista, o fato é que ninguém viu. O próprio
ataque terrorista de onze de setembro dizem que foi forjado pelo governo
americano porque precisavam uma desculpa qualquer para invadir uns dois ou três
países. Não duvido. As invasões americanas, tão comuns, sempre são realizadas
sobre notícias forjadas, as “fake news”. Logo apos o Afeganistão, os americanos
invadiram também o Iraque, com a desculpa que Sadam Husseim estaria planejando
ataques com armas de destruição em massa. Tudo mentira também, depois de
bombardear tudo, destruir o país e prender o cara, revelaram que Sadam não tinha
as armas de destruição em massa. Mas, era tarde, os Estados Unidos já tinha se
apossado dos poços de petróleo do país. Outro exemplo histórico importante, o Vietnam
foi arrasado, mataram mais de um milhão de vietnamitas, alegando que o país
comunista teria afundado um navio americano. Mas também era uma notícia
inventada. Todas, simplesmente todas, as invasões americanas são baseadas em
desculpas falsas porque “fake news” é a forma usual que os poderosos lançam mão
para obter o que querem.
Aqui mesmo no Brasil, os Estados Unidos
interferem na vida do país. Não estou falando agora de carros movidos a
gasolina, de Coca-cola ou Marlboro, coisas que nos fazem acreditar através de
fake news e propaganda enganosa que são boas para nós. Estou falando de
derrubar governos utilizando uma trama de mentiras deslavadas. Getúlio Vargas
se matou porque se viu envolto num cipoal de notícias falsas. O golpe militar
de 64 foi também urdido a distância pelos americanos. Mais recentemente, a
presidenta Dilma foi deposta por uma série de factóides criados propositalmente
para causar confusão e direcionar a opinião pública. O fato é que depois de
derrubado o governo se descobre que as notícias que determinaram a história eram
falsas. Perícia do Tribunal de Contas da União revelou, nesse exemplo mais
recente da presidenta Dilma, que ela não fez as tais pedaladas fiscais que lhe
custaram o cargo. Os Estados Unidos costumam usar as Fake News porque é um
método barato de obter o que querem. Com seu poder midiático, ninguém consegue
desmentir à tempo. E o que os americanos ganharam derrubando Dilma? O petróleo
do pré-sal, é claro.
Os exemplos
vão ao infinito. A questão dos transportes agora está sendo bastante debatida
porque se chegou a um ponto de insustentabilidade. O Brasil fez uma escolha pelas
rodovias seguindo orientações americanas de desenvolvimento. Porém, na ponta do
lápis, se percebe claramente que um modelo de transporte de cargas e
passageiros baseado em ferrovias e hidrovias seria muito mais barato. Mas outros
exemplos são ainda mais sutis. Os esportes são apregoados como panacéia social.
Nos ensinam que faz bem para saúde, mas o que se vê entre os praticantes são seguidas
lesões graves. Nos afirmam que forja um carácter ético, mas o que realmente
acontece é um festival de corrupção em todos os níveis, do bandeirinha que
vende resultados, aos cartolas presos por desvio de verbas. Apregoam que afasta
das drogas, mas os testes antidopping provam exatamente o contrário. O atleta é
um sujeito que busca as drogas para amenizar as dores da prática insalubre ou
aumentar sua performance. Defendem que é includente, mas a verdade é que nos
esportes a exclusão é a regra. Somente um vencerá, o resto tem que se resignar.
O fenômeno esportivo é todo baseado em “fake news”. Nas escolas, a maior sala
de aula é sempre o ginásio de esportes e os materiais didáticos mais caros são
os equipamentos de educação fisica. Porque se gasta tanto no esforço de ensinar
esportes? Ora, porque é a pedagogia da resignação, somente alguns privilegiados
vencerão, sempre os mesmos, mas o “importante é competir”!! Resigne-se! O que
realmente os esportes ensinam é a competição capitalista americana.
Repare que
quem vende a Coca-cola, faz uma propaganda que ela é ótima. Mas qualquer
nutricionista vai afirmar que é o pior alimento que se pode ingerir. Por muito
tempo, se vendia cigarros prometendo uma vida muito mais glamourosa e feliz,
mas o que se obtinha na realidade era uma vida cheia de problemas de saúde.
Quem vende carros movidos a combustíveis, jura que são máquinas modernas, que
são o melhor meio de se deslocar pelas cidades e até que são ecológicos e
sustentáveis! Quem vende os esportes, promete saúde e inclusão, nada mais longe
da realidade.
As “fake news”
são como inço, nunca sairão da tua horta de conhecimento. “Eles” inçam o
mercado com informações falsas e dominam o mundo. Será que não está na hora de “nós”
começarmos a lançar nossas próprias fake news? Como “eles” tem os meios de
comunicação nas mãos (porque começaram um século antes a inçar) teremos que ser
muito efetivos nisso. Coragem, companheiros, porque nesse ano de eleições, a luta
está só começando!
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