Verônica tirou minha dúvida: jujo é planta
medicinal. Olhou na internet. Tudo que está na internet é verdade!
Todo mundo sabe. Olhei também, para conferir. Sério? Nunca tinha
ouvido falar. Por mais tirocínio que se tenha, sempre haverá termos
desconhecidos. A ansiedade do jovem aprendiz, de querer aprender logo
tudo, se transforma ao longo da vida na serena humildade do
traquejado mestre. Mas o conhecimento precisa ser cultivado, como uma
planta. Não basta plantar, tem que regar, adubar, tirar inços,
expor ao sol. Aos poucos ela vai crescendo. Ao final de sua vida pode
estar enorme ou minúsculo, depende das escolhas que fazes. Regou?
Pessoas que se encantam com o aprendizado se reúnem nalguns lugares
para juntos partilharem o que sabem. A erudição, como o amor, é
uma daquelas coisas que quanto mais se dá, mais se tem. Estive ontem
novamente na Sala Jazz Geraldo Flach, lugar de público erudito. Ao
meu lado, assistindo ao show, professores universitários, médicos
psiquiatras, jornalistas, artistas, pessoas que vivem no coração
intelectual da sociedade, nenhum ribeirinho. No livro A invenção do
ar, Steven Johnson relata como se dá os avanços do pensamento. A
atmosfera necessária para mudanças paradigmáticas sempre contém
ingredientes parecidos. As grandes cabeças de uma época se reúnem
no mesmo lugar, comem, bebem e fumam juntos, experimentam estados
alterados da consciência, escutam música, tocam, riem e cantam.
Parece bobo, mas mais ou menos assim que o pé de conhecimento
cresce: um gênio debocha do outro que está meio bêbado cantando
melodias com letras engraçadas. Enfadonhas salas de aula nos ensinam
o que já existe, mas para mudar o que se pensa tem que ser noutro
tipo de ambiente. Paulo Freire dizia que o aprendizado só se dá
numa relação afetiva positiva. O que testemunhei ontem foi isso.
Zelito, artista de Santo Antônio da Patrulha, tocou seu violão e
nos fez rir. Angela e Roni cultivam ali naquela sala, com muito zelo,
amor e cuidado, a plantinha da erudição. Reuniram os amigos, como
sempre fazem, para comer, beber e se divertir. Escutamos cantigas de
ninar e Mamonas Assassinas, milongas e rock. Um caldeirão de
conhecimento musical onde mergulhamos para nos embebedar. O afinado
dueto entre Zelito e Marcelo Delacroix, foi emocionante. O ponto alto
do show foi “O pé de jujo”, uma engraçada canção que trata da
legalização da maconha como planta medicinal e diferenças
legislativas entre países. O pé de jujo, a Sala Jazz e um professor
universitário ébrio são coisas que a sociedade vê como
clandestinas, porém, nada mais importante para a revolução
acontecer do que a existência delas. Os conservadores sempre perdem
a batalha contra a inteligência. A evolução social sempre
acontece. As mulheres votam, a escravidão é proibida, a
homossexualidade não é doença, os indígenas não são selvagens.
Mas tudo demora, os intelectuais são minoria, ilhas de saber, a
idiotice é oceânica e opressora. A Sala Jazz é um lugar pequeno, a
estupidez enche estádios. É com ajuda da arte, o humor, a música e
os pés de jujo que a inteligência vai se sobrepondo a ignorância.
Mas temos que cultivar, na Geraldo Flach a ignorância não passa da
porta porque é inço, tem que ser arrancado de lá. Me sinto muito
honrado quando me deixam entrar. Imagina o que será que está sendo
criado ali?! John Lennon frequentaria o lugar, imagine there’s no
countries, não deveria ser preciso atravessar fronteiras para
cultivar um pé de jujo.
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