Fui escolhido paraninfo da formatura
da turma do prézinho. Fiquei honradíssimo com a homenagem. Resolvi preparar um
discurso para a ocasião. Escrevi o que está abaixo, mas na hora falei, no lugar
de ler. Não saiu exatamente o aqui planejado, mas essa foi a mensagem que
tentei passar:
Queridas alunas, queridos alunos.
Esta fala que farei se dirige a
vocês, mas talvez vocês não entendam todas as palavras. Depois os pais de vocês
podem explicar melhor.
Queridos pais, queridos colegas
professores, queridos amigos.
Ao ser convidado para essa
solenidade, lembrei de dois pensadores que mudaram o pensamento da humanidade. O
primeiro era uma liderança política e espiritual do oriente médio. Sua
influência se estendeu por todo mundo e seu pensamento virou slogan das
revoluções republicanas: liberdade, igualdade, fraternidade. Um terço das
pessoas do mundo acreditam inclusive que ele seja um deus. Ele sempre falava
em amor, dizia que devemos amar os outros como a nós mesmos. Talvez vocês já tenham ouvido falar dele. Seu nome
era Jesus e ele vinha da cidade de Nazaré. Uma ocasião umas crianças se
aproximaram dele e seus discípulos as enxotaram. Porém, ele reagiu: deixem vir
a mim as criancinhas, porque só entra no reino de Deus quem for puro amor, como
as crianças. O segundo pensador é um brasileiro, doutor em educação. Terceiro
pesquisador mais citado em artigos científicos no mundo. Reconhecido
internacionalmente como um grande inovador na educação. Seu trabalho
revolucionou a atividade docente em meados do século XX. Foi aclamado
recentemente como patrono da educação brasileira. Talvez vocês já tenham ouvido
falar dele. Seu nome era Paulo Freire. Esse doutor também sempre falava
em amor, afirmava que o aprendizado só se dá quando há uma relação
afetiva positiva entre professor e aluno, quando o aluno gosta do professor.
Porque as crianças são puro amor. O professor é aquele que ama seus alunos, ele
dizia. Também dizia que o professor mais preparado, aquele com mais estudo e
bagagem cultural, deveria trabalhar com os alunos mais jovens e mais
ignorantes, com as crianças pequenas. Ensinar adultos geralmente é fácil, basta
explicar. Mas crianças que não sabem nem falar, muitas vezes é dureza.
Já pensaram que esses alunos
vão, se a lei não mudar de novo até lá, se aposentar em 2080? Sessenta por cento das
profissões que eles exercerão ainda nem existe. Há vinte anos comprei meu
primeiro celular. Não me ensinaram nada a respeito dessa máquina maravilhosa na
escola porque aparelhos móveis de telefonia ainda não existiam quando eu era um
estudante. Será que na escola podemos ensinar ainda alguma coisa que será útil
para eles no futuro? Ou será mais útil oferecer amor, que os torne mais fortes
psicologicamente, para estarem mais preparados e resilientes para um mundo em
constante transformação? Coisas que até há pouco eram importantíssimas, agora
são quase vultos históricos. Telefones de disco e telefonistas, cartas e carteiros,
cheques, aparelhos de rádio. Até o século passado, grandes indústrias produtoras
de bens, como Volkswagen ou Philips, eram as maiores e mais valiosas empresas do
mundo. Atualmente, o dinheiro grosso vem mesmo de empresas que produzem
intangíveis, como Google, Netflix e Facebook. E no futuro, será que nós professores
seremos necessários? Médicos e advogados não serão substituídos por
inteligência artificial?
É a primeira vez que me escolhem como
paraninfo de uma turma. Uma honra até então inédita para mim. Me enchi de orgulho
quando recebi o convite, esse é, sem dúvida o auge de minha carreira como
professor. Pois se é mesmo que os professores mais preparados são os que
atendem os alunos menos experientes e esse sou eu, então cheguei lá. O
prézinho, é a turma mais importante de todo o sistema escolar. Pois são os
alunos que entendem as coisas só com amor. Amor é sua moeda de troca com o
mundo, ao fim e ao cabo, a única moeda que interessa. Acredito que a educação
infantil ensinará a humanidade a amar, como previram acertadamente aqueles dois
pensadores que citei.
Muito obrigado.
És importantíssimo para a educação!!!Eu lamentei que não conseguir colocar nossos planos educacionais em prática. Estou pensando em voltar para a educação...mas não desistir dos novos projetos que já tenho...Gosto das tuas escritas...da forma como vê e coloca teus pensamentos.Está na hora de pensar em colocar em um lindo livro todas as escritas...ilustro a capa��������������
ResponderExcluirObrigado, Sonia!
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