Assisti Feliz Aniversário, com Caterine Deneuve, uma
tradução ruim do título em francês Fête de familie, festa de família. Esse ano
a indústria cinematográfica mundial resolveu cair na real, muitos filmes da
vida como ela é. O Coringa, americano. Bacurau e a Vida Invisível do Brasil.
Coréia nos presenteou Parasita. Todos filmes que explicitam mazelas sociais, exclusão,
subversão a ordem e questionamentos ao status quo. No centro de tudo sempre
está a doença mental que os protagonistas sofrem causada por, os roteiros nos
levam a concluir, uma sociedade doente.
O cartaz do filme na porta do cinema iludia, assim como as
famílias fazem, as fotos são lindas e o que se fala é bem diferente do que se
vive. Quando se estuda a família, assim como as conhecemos hoje, se percebe que
é uma construção histórica. Nem sempre existiu. Família passou a ser debatida
junto com as primeiras cercas. Tradição, família e propriedade é uma novidade
antropológica. É inegável que a agricultura e a necessidade da vida sedentária,
a indústria e agora a informática, trouxeram grandes avanços para a humanidade.
Porém, a mudança da espécie de caçadora coletora para sedentária, trouxe também
muitas patologias mentais como efeito colateral. A defesa da família como
sagrada ocorre nas sociedades que tem também a propriedade privada como dogma.
Não é a toa que na televisão, desde às quatro da tarde, no vale a pena ver de
novo, até dez da noite, quando acaba a última novela, as emissoras de maior
prestígio ficam enaltecendo a família como valor moral inquestionável. Ainda
que as histórias sempre sejam dramáticas, com mazelas terríveis durante a
trama, no fim tudo se ajeita quando os membros maus das famílias são finalmente
vencidos e os bons ficam unidos num paraíso terreno. Não por acaso também, é
que o final mais clichê de novela é um casamento. Como um exemplo de patologia
mental temos o nosso presidente atual, aquele psicopata nazista, defende a
família “tradicional” apesar de já estar na terceira esposa e ter filhos extraconjugais,
sem falar na corrupção e banditismo. A hipocrisia é o que as famílias tem de
mais tradicional.
O filme é uma caricatura de família. Os papéis necessários a
“boa” vida familiar estão todos lá: o bobo da corte, o certinho, o bode
expiatório, os agregados que reproduzem as mazelas, a matricarca, o omisso e, é
claro, a propriedade. O roteirista quis dar uma aula de psicologia das relações
familiares. A vida como ela é. Brigas, acidentes de carro, drogas, crises nervosas, discussões. Lembra muito os contos do dramaturgo Nelson
Rodrigues. Não tem final feliz. Família é um esforço coletivo para se encenar
uma peça que seja palatável para a sociedade. Vou contar o final, pare de ler
aqui se pretende assistir ao filme. Na última cena, a família acende as
velinhas e canta parabéns para matriarca como se nada tivesse acontecido apesar do pesadelo vivido. O
espetáculo tem que continuar, mesmo que a plateia seja só a própria família.
Quando se percebe quem defende a família, os interesses
envolvidos, temos que, pelo menos, nos questionar sobre sua pertinência. Assim
como muitos fazem sobre a propriedade e tantos outros valores sociais
dogmáticos da atualidade. O que todos os filmes dessa última leva tentam fazer
é exatamente isso. Mostrar que família é uma festa somente no final das novelas.
A realidade é bem diferente dos que os hipócritas tentam nos fazer acreditar.
Todos estes filmes nos trazem ensinamentos valorosos. Tua reflexão externa tua sensibilidade no tocante as temáticas abordadas.
ResponderExcluirÉ um prazer ler teus textos.