A Família como
Sistema Adaptativo Complexo
Este artigo tenta
demonstrar como os indivíduos, mesmo adultos, fazem parte de um todo maior, a
família, ainda que longe dela. Para isto, faremos uso da estrutura de
referência para sistemas adaptativos complexos de Axelrod e Cohen que tem doze
conceitos centrais: sistema, agente, população, tipo, variedade, estratégia,
padrão de interação, espaço conceitual, espaço físico, artefato, seleção e
critério de sucesso ou medida de desempenho. Além destes ainda tentaremos
identificar na família mais três conceitos melhor descritos por Coelho:
atrator, auto-organização e adaptação.
A Família
como sistema adaptativo complexo são sistemas compostos de um
grande número de agentes que interagem uns com os outros para produzir uma
estratégia de sobrevivência adaptada para eles mesmos e, portanto, para o
sistema ou partes do sistema as quais eles pertencem.
Os agentes da
família são os membros dela: Pai e mãe, filhos e filhas, irmãos e irmãs, tios e
tias, primos e primas, avôs e avós, netos e netas, sobrinhos e sobrinhas,
sobrinhos-netos e sobrinhas-netas, tios-avôs e tias-avós, bisavôs e bisavós,
bisnetos e bisnetas, primos e primas de segundo grau, padrastos e madrastas,
meio-irmãos e meias-irmãs, enteados e enteadas, sogros e sogras, genros e
noras, cunhados e cunhadas, concunhados e concunhadas, bem como agregados dos
mais variados tipos além de animais de estimação. Sendo então a população todos
os membros que sofrem a família. Os agentes ainda podem se dividir em tipos.
Os tipos são agentes ou estratégias com características em comum que um
observador externo pode achar relevante destacar. Genitor ou prole, feminino ou
masculino, legítimo ou adotado, opressor ou oprimido, contribui com dinheiro ou
não, ajuda no lar ou não e muitas outras. Uma maior variedade de
tipos de membros da família garante a sobrevivência do sistema nas situações de
crise, fazendo de cada tipo um agente fundamental para a perpetuação da
família.
O modo como os
agentes da família agem nas diversas situações domésticas para melhor manter a
vida é a estratégia de cada agente ou grupo de agentes. Elas
podem variar das simples sedução, punição e premiação até as mais sutis como o
uso do medo, da corrupção e da culpa passando pelo desdém, o deboche e a
arrogância. As estratégias são postas em prática nos diversos padrões
de interação do cotidiano das famílias. A interação se dá através de
conversas, brigas, atos e omissões, intrigas e alianças.
A família existe
num espaço conceitual que podemos chamar de lar. Os agentes da
família podem estar muito distantes fisicamente, mas ainda assim interagirem
uns com os outros para aplicar suas estratégias de sobrevivência. O lar,
portanto, independe de um espaço físico para que o sistema família
sobreviva. Mas o espaço físico é onde normalmente os agentes interagem no
cotidiano, ele pode ser uma caverna, uma oca, uma barraca de lona plástica, uma
casa ou apartamento e até mesmo uma mansão ou castelo. Nem a família que viva
na mais opulenta riqueza, nem aquela que sobrevive na mais simples pobreza, vai
deixar de agir como um sistema adaptativo complexo num grande esforço de
sobrevivência da família.
As famílias dispõem
de diversos artefatos para melhor perpetuar a vida. Num espaço
físico casa, podemos citar vários deles como exemplo. O banheiro, a televisão,
a poltrona, o sofá, a rede, o aparelho de som, o telefone, o carro, o
computador, o controle remoto são todos artefatos disputados pelos membros da
família no seu cotidiano. Eles oferecem inúmeras oportunidades de interação em
que cada agente pode utilizar suas estratégias. Ao longo do tempo as interações
vão se padronizando no uso dos artefatos: o papai sempre senta na poltrona com
o controle remoto nas mãos e a mamãe sempre prepara o jantar no fogão, os
filhos nunca podem mexer no fogão e só podem sentar na poltrona se o papai não
estiver em casa.
O critério
de sucesso numa família é se os agentes estão vivos e se estão se
esforçando para perpetuar a vida. Assim a medida de desempenho é
através da qualidade da comida, da qualidade do espaço físico, do tamanho da prole,
da quantidade dos artefatos disponíveis, da qualidade dos parceiros afetivos
que os membros arranjam, da quantidade de dinheiro que a família produz e
muitos outros, todos tentando mensurar a capacidade que o sistema família tem
de atingir o sucesso que é manter a vida.
Como o meio
ambiente está em constante mutação, os agentes e as estratégias estão também
sempre buscando uma melhoradaptação ao meio. As estratégias menos
felizes em atingir sucesso serão logo descartadas. Mas algum agente que desenvolva
uma estratégia de maior desempenho para atingir o sucesso se tornará um atrator para
os demais. Assim, naturalmente ocorrerá uma seleção para os
agentes e estratégias mais eficazes na obtenção do sucesso. Haverá, portanto,
uma auto-organização do sistema na busca do sucesso, sem que
para isto tenha se feito nenhuma regra supra sistêmica. Na família, em
situações cotidianas na busca da perpetuação da vida, isto significa as mais
diversas situações. Como exemplos: algum membro obteve sucesso sendo advogado,
outros membros tentarão a mesma profissão; se algum agente feminino conseguiu
engravidar numa inseminação artificial, outros tentarão o mesmo procedimento;
se nenhum membro da família fez curso superior, outros agentes não terão tal
preocupação.
Assim como o meio
ambiente do indivíduo humano é sua família, o meio ambiente da família é a
sociedade na qual está imersa. Todos os indivíduos da família estão sujeitos
também a este super sistema. A família é a energia que anima o sistema
capitalista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário