Matrix
Não
sei se já viste aquele filme Matrix, viste? Deves ter visto, fez muito sucesso
há uns anos atrás. É uma ficção científica em que os seres humanos são
explorados por máquinas para algum propósito que não me lembro mais, faz tempo
que vi no cinema. O que ficou para mim do filme é que todos os humanos são
mantidos juntos numa espécie de coma induzido, num transe coletivo, mergulhados
pelados numa banheira de sopa primal e com o cérebro conectado a um computador
gigante, vivendo uma vida virtual de um programa de computador chamado Matrix,
somente dentro de nossa mente, mas que parecia extremamente real para todos. O
Matrix é a nossa vida: família, desejos, carro, trabalho, praia, casa, contas a
pagar, Paris, sonhos, sofrimento, etc. Algumas pessoas começam a encontrar
sinais de que vivem neste programa de computador. Alguns, mais curiosos, seguem
as pistas e começam a se dar conta da coisa toda. Mas muitos não crêem nas
pistas, se deprimem, se revoltam com as provas que encontram e seguem
acreditando no Matrix. As pistas são deixadas por pessoas fora do programa
Matrix, hackers que entram no programa para subvertê-lo, para salvar os seres
humanos daquelas máquinas opressoras e exploradoras. As pessoas que, apesar de
atônitas e incrédulas com as verdades encontradas (conceitos que destroem todo
o mundo hipotético em que vivem), seguem as pistas deixadas pelos seres humanos
subversivos que vivem fora do Matrix, caem na realidade. Quando alguém
finalmente admite que é tudo uma farsa, toma uma pílula vermelha e desperta do
coma dentro daquela melequenta banheira de sopa primal e é logo removido de lá
por um robô que joga o ser humano no funil de refugos. O que o computador não
sabe é que os seres humanos refugados se ajudam mutuamente, se organizam para
resistir e entram no programa Matrix para fazer com que mais seres humanos se
dêem conta da farsa em que vivem para despertar para uma vida real. O filme
todo é meio chato e violento, tem três horas de muita pancadaria e tiroteio.
Mas, como metáfora, é maravilhoso.
Algumas
pessoas dizem que o filme é riquíssimo de metáforas e analogias. Por exemplo: o
personagem principal é um messias que veio para salvar a humanidade. Super
sutil, não é?! Mesmo assim, o filme tem até uma legião internacional de
admiradores que se reúnem para discuti-lo. Formaram uma espécie de seita que
tem o filme como evangelho, até se vestem como os personagens, aquelas coisas.
Não vais pensar que eu agora sou de alguma forma ligado a eles, tá? Não. Mas,
tem muita coisa que acreditamos como se estivéssemos num Matrix. Exemplos: O
melhor sistema político é a democracia representativa. Todo ser humano é dono
de livre-arbítrio. O sistema prisional é um mal necessário em qualquer
sociedade. Não tem como haver cidade moderna sem automóveis. A educação escolar
é fundamental para o bom desenvolvimento do país. Família é a coisa mais
sagrada que existe. Casamento é uma instituição fundamentada no amor. O
movimento sindical é a forma que os trabalhadores têm de melhorar suas
condições de trabalho e remuneração. Sem as indústrias voltaríamos ao tempo das
cavernas. O esporte é a mais grata contribuição da modernidade a humanidade. A
mulher só é bela se for magra. A religião... Bom, a religião vamos deixar para
daqui um pouquinho, tá?
Estas
são algumas das verdades, dos axiomas, dos dogmas da humanidade na atualidade.
Conceitos que fundamentam qualquer sociedade. Há também as verdades
situacionais, por exemplo: Barack Obama foi eleito presidente dos Estados
Unidos. A maior parte da população do mundo acredita nestas coisas todas e todo
mundo sofre um bocado com elas. Mas tem algumas pessoas que despertam do transe
coletivo e param de sofrer.
O
Valor mais importante da sociedade capitalista ocidental, o tal do Matrix, é a
família e o casamento. Tanto que a Globo mostra uma novela atrás da outra,
desde as três da tarde até as dez da noite, insistindo que nós temos que nos
esforçar para encontrar um par perfeito, casar com ele, ter vários filhos e
viver feliz para sempre. Quase ninguém consegue isto. Mas o axioma é de que
isto é possível. Se alguém não consegue é porque não se esforçou o bastante ou
fez algo errado. O sistema põe a culpa sobre o indivíduo de uma falha inerente
ao próprio sistema. Todo mundo se sente um bosta por não conseguir ser
“normal”.
O
segundo valor mais importante da sociedade industrial é a competição. Tanto que
os esportes são tidos como a panacéia para todos os problemas sociais: saúde,
educação, salvação das drogas, inclusão, tudo! Não tem um telejornal que não
nos lembre isto. Existem vários programas diários de esportes e não tem uma
semana sem que o horário nobre da TV não seja ocupado por um, dois ou mais
esportes. Fora os finais de semana que nós somos massacrados por dezenas de
eventos obrigatórios, porque tu mudas de canal e eles ainda estão lá! O axioma
é que tu tens que te esforçar muito para vencer na vida. De novo, quase ninguém
consegue, mas todo mundo jura que é possível. Ainda assim, os maiores heróis do
povo são os atletas de sucesso. E, de novo, se alguém não consegue é porque não
se esforçou o suficiente. E, novamente, o culpado é o indivíduo, não o sistema.
Mas igual, todo mundo se sente um merda se não vira um herói olímpico ou, pelo
menos, que seu time não ganhe.
A
democracia esmaga a opinião das minorias e sempre o eleito numa democracia
representativa foi aquele escolhido pela grande massa ignorante de manobra. O
eleito é o cabelo castanho e ondulado alisado por chapinha e pintado de loiro!
Aliás, esse é o terceiro valor mais importante para a sociedade, capitalista: a
beleza. A mesma história aqui. A massa vai com a onda, age como um cardume.
Tenta ser normal, mas ninguém consegue e se sente um merda! O Hitler era
extremamente democrático. Ele fazia vários plebiscitos para legitimar suas
maluquices: Vocês querem ser o país líder do mundo? Siiiiim! Respondiam em coro
os alemães ignorantes das intenções manipuladoras do plebiscito. Se formos
democráticos em tudo vai dar muita merda e muita exclusão.
Tem
muitos outros exemplos de “verdades” absurdas, mas não quero me alongar: Os
caras põe na cadeia todo mundo que transgride há séculos, há penas cada vez
mais pesadas para cada vez mais tipos de transgressões sociais, mas isto
evidentemente não funciona porque há cada vez mais transgressores. Os muros das
escolas são cada vez mais altos para as crianças não fugirem de lá e os pais
são presos se não põe as crianças no colégio, mas cada vez menos crianças se
motivam para aprender o que é uma melastomatácia ou como somar polinômios,
porque Plutão nem é mais planeta e até a Jibóia perdeu o acento. Escola é uma
coleção incrível de conhecimentos inúteis e serve só para ensinar a se
resignar: Por mais que tu te esforces, não vais vencer na vida, ser belo ou ser
feliz. E a culpa é sempre tua não é do sistema! Bom, já deu para sacar, né? O
Matrix em que vivemos é osso duro de roer.
Mas,
deixa eu te falar dos papos bíblicos que tive com minha mãe. Sabes que sou
ateu? Nem sei tua religião, se é que tens. Mas eu gosto muito de relacionar
tudo com Jesus, porque todo mundo conhece “Ele”. E “Dele” que vêm muitas das
verdades da nossa sociedade. O Matrix, este caldeirão de dogmas e axiomas em
que estamos imersos e que chamamos de cultura, é responsabilidade “Dele”, em
grande parte. Alias, ele é o Matrix! Se tu achas que não, me explique? Na
constituição está que o Estado é laico, mas porque, tanto na assembléia
legislativa quanto na câmara dos vereadores, tem um baita crucifixo logo acima
da cabeça do presidente da mesa? Minha mãe passou uns dias aqui comigo. Conversamos
bastante, comentei com ela alguns filmes que tinha visto. Um deles foi aquele
do Pedro. Tem nas locadoras, já viste? Esse foi o que mais rendeu debate.
Fiquei impressionado que no começo Pedro não queria ajudar os gentios. Ele
pensava: Amor ao próximo sim, mas não para esta gentalha impura que não é
judia, né? Ele era super sectário! O Pedro parecia aqueles caras das castas
indianas da última novela das oito, ele pensava: os dalith são impuros, não são
nem gente. O significado de sectário, no meu dicionário Aurélio eletrônico aqui
do meu computador, é: relativo ou pertencente a seita. Bom, Pedro era sectário!
Ele achava que aquilo que Jesus tinha falado antes de morrer só valia para os
Judeus. Só valia para a casta escolhida por Deus, no entender de Pedro, os
judeus. Ele era judeu como Jesus e pensava que todo aquele papo de Jesus era:
vamos salvar o nosso! Compreensível, claro, agia de acordo com seu Matrix, a
cultura a qual estava imerso. Pedro era um cara do povo, pobre, ignorante, sem
estudo, e o mais velho dos apóstolos. Mesmo tendo convivido com Jesus um
tempão, não entendeu nada. Os jovens são revolucionários e querem mudar o
mundo, mas muitos velhos querem manter o mundo como eles conseguiram construir
durante a vida. Distorcem tudo que ouvem de tal forma que se encaixe no mundo
que já está indo embora. Muitos velhos são sectários, conservadores. Toda vida
Pedro ouviu aquilo de vamos salvar o nosso! Ele pensou que Jesus só tinha
mostrado como. Mas Jesus não queria que ele pensasse assim. Comentei com a mãe
aquilo do Pedro ser sectário que me impressionou no filme e ela, imediatamente,
lembrou de Atos 10, 1-48: Pedro teve uma visão com um banquete de comida, só
comidas que os gentios comem, mas os judeus não podem comer. Somente comidas
que um sectário judeu chamaria de impuras e não tocaria. Na visão, Pedro era
convidado a comer. Pedro logo entendeu que aquela visão tinha sido enviada por
Deus para fazê-lo entender que não existia este negócio de impuro, todo mundo é
igual, puro, e o sectarismo é uma cagada.
Só
minha mãe para lembrar-se de cabeça, com Alzheimer e tudo, uma passagem bíblica
que se relacionava com o que eu percebi no filme. Sectarismo é uma coisa que
grassa com grande velocidade no movimento sindical. É o que eu estou vivendo
agora: ataques de sectários de todas as seitas possíveis e imagináveis. Nossa
chapa saiu vencedora do pleito para eleição da diretoria do sindicato e a base
da nossa categoria tem mais de nove mil trabalhadores. Cada um dos nove mil tem
suas crenças diferentes, suas seitas. Cada um é sectário de uma forma
diferente, e quer que o seu sindicato pense de acordo com aquelas crenças. Cada
um que me encontra na rua faz um discurso de como a nova diretoria deve agir!
Nós temos a difícil missão de tentar “consensuar” todas as seitas em torno de
um pensamento comum: o bem do servidor. Mas, uma coisa comum a todos os nove
mil é que eles querem que o sindicato seja um salvador messiânico que venha
para salvar suas vidas da opressão. Nunca a salvação depende do esforço deles mesmos,
o sindicato é sempre falado na terceira pessoa, alguém que cai do céu para
salvar a plebe. O sindicato tem que fazer alguma coisa! É o que mais se ouve.
Parece uma oração, como: Deus vai ver nosso esforço e há de ajudar! Ou, agora
que ganhamos a eleição, eles falam na segunda pessoa! Eles sempre me dizem algo
como: Olha Tiago, o que tu tens que fazer lá é o seguinte:... Segue uma baita
prece, cheia de pedidos, uma verdadeira reza. Ou então: Ô, Tiago, Vê se tu não
consegues para mim... Alguma súplica. Eu me tornei um messias há muito
aguardado. Aonde chego todos vão me seguindo, o povo se reúne ao meu redor para
ouvir meu sermão.
Dizem
que minha mãe anda esquecendo de tudo, concordo em parte, pelo menos da sua
atividade de teóloga ela ainda não esqueceu nada. Voltando ao meu dicionário
eletrônico, procurei teologia: Estudo racional dos textos sagrados, dos dogmas
e das tradições do cristianismo. É isto que minha mãe faz. Mesmo ela sendo
católica fervorosa, tendo muita fé, ela consegue separar a paixão por sua
religião, o sagrado, o dogma, o inquestionável, da razão que analisa o texto de
um livro escrito por seres humanos, a bíblia. Então, ela foi além, lembrou de
mais uma passagem bíblica relacionada com minhas preocupações atuais. Ela
lembrou que o próprio Jesus era sectário. Sim, Jesus! Ele mesmo! Feito homem,
Ele sente fome, sede, dor, medo, dúvida e erra também, como qualquer ser
humano! Minha mãe lembrou do momento que Jesus é convertido. Conversão, no
Aurélio, é: A rejeição ou aceitação pública de certo número de atitudes. Pois
tem um momento descrito na bíblia que Jesus rejeita sua própria seita, se
percebe sectário e, imediatamente, muda de opinião, se converte para a “não
seita”. É difícil para um cristão passional, que aceita e louva tudo que diga
respeito a Jesus sem questionamentos, encontrar defeitos humanos na sua
divindade.
A
bíblia é um livro que reúne somente alguns escritos – poucos, dos muitos que
havia – cuidadosamente escolhidos ao longo da história por seres humanos
sectários como qualquer um, para ser um meio de promover um fim desejado por
aqueles poucos sectários em posição de escolher. E mesmo aqueles poucos textos
escolhidos para compor a bíblia, o livro sagrado que não deve ser questionado
jamais, foram cuidadosamente editados de tal forma que distorcessem as idéias
originais para um fim sectário. E olha que os textos originais, as idéias
originais, já tinham sido escritos por algum sectário que ouviu falar. Até lá,
até na bíblia, o livro mais distorcido da história, o livro mais corrompido do
mundo, até lá se admite a humanidade de Jesus.
Bom,
está lá para quem quiser ler: Marcos 7, 1-30. Numa determinada ocasião, Jesus
estava a desmascarar uma série de hipocrisias das seitas daquele tempo, de uma
certa forma, o que ele pregava era a “não seita”. Mas, ao mesmo tempo, sem
perceber, Jesus era extremamente sectário. Ele estava cansado, tinha viajado
muito, não queria ser incomodado, mas uma mulher pede para Jesus ajudar a
salvar sua filha. As mulheres eram nada naquele tempo. Menos que o cocô de um
homem. Se mulher já era nada, mulher criança então! Aborrecido, Jesus manda ela
voltar depois porque ele e os apóstolos estão descansando e se alimentando e
não era legal levantar da mesa para atender primeiro um cachorrinho. Os judeus
chamavam de cães os estrangeiros, por serem impuros, não serem gente. Uma
mulher era uma cadela e sua filha uma cadelinha, um cachorrinho. No Aurélio (é
útil este negócio de dicionário, não é?) Cachorro, é: cão novo e pequeno. A
fala da mulher, depois que ele manda ela pastar, é que finalmente converteu
Jesus a “não seita”. O que ela diz, mais ou menos, é que até os cachorros, que
nem são humanos, comiam as migalhas que caiam da mesa dos judeus. Ou seja, as
mulheres deveriam ter pelo menos os direitos dos cães! Os excluídos só têm
acesso às sobras dos incluídos. Jesus percebeu, através da fala da mulher, a
magnitude da injustiça que acabara de cometer. Percebeu que justo seria se
todos fossem incluídos na mesma mesa e que esta coisa de seita é uma
barbaridade, uma coisa animal, uma coisa de cão.
Legal,
não é? Para mim fica claro que Jesus gostava muito de mulher, pois prestava
muita atenção nas suas demandas. Claro que sua relação com as mulheres foi
negligenciada nos escritos que chegaram até nós porque as mulheres eram nada e
continuaram nada por muitos séculos depois. Os homens é que tinham acesso ao
estudo, ao saber ler e escrever. Os homens é que tinham poder de decisão sobre
o que seria lido dali para frente. Os homens é que decidiam como “foi” a
história. Nenhum homem ia escrever sobre o nada. Acho evidente também o fato de
as mulheres serem mais sábias que Jesus em algumas coisas, pois elas em muitas
ocasiões, por serem as oprimidas e excluídas da época, que abrem os olhos de
Jesus para as situações de exclusão e opressão que Jesus se propõe a acabar,
mas nem Ele enxergava. Também é evidente para mim, que só uma teóloga, uma
mulher, como minha mãe, não um teólogo homem, poderia enxergar estes detalhes
bíblicos. E veja só: Jesus fazendo injustiça? Sim, Ele era um ser humano, como
qualquer outro. Percebe? Ele não era Ele, era ele! Quem fez dele Ele, foram os
homens sectários que escreveram o Matrix depois. Jesus se percebia falível e,
humilde, mudava de opinião quando errava.
Bom,
findo o estudo bíblico de hoje, vamos ao sindicato. Vamos falar um pouco sobre
o porquê de se filiar e fazer as coisas que o sindicato decide, como greve.
Antes mesmo de tu te filiares, o sindicato já era teu sindicato. Um sindicato é
a união solidária de todos os trabalhadores de alguma instituição. Mesmo se não
fosses sindicalizado, se a coisa aperta para o teu lado é para lá que iras
correndo chorar. Sindicato é o que Jesus pregava: ser solidário com o próximo,
ajudar no que puder para libertar o povo da opressão. No Aurélio eletrônico
está que cristão é: aquele que professa o cristianismo, que é sectário dele. É
verdade! Sectário dele! Juro, vai lá no Aurélio ver! E cristianismo é: o
conjunto das religiões baseadas nos ensinamentos, na pessoa e na vida de Jesus.
Tu vês que coisa: Jesus nunca disse para fazer uma religião, como está no
dicionário, ele só dizia para fazer o que ele pregava. Então, neste sentido,
ser filiado e fazer greves é ser sectário do cristianismo! Fazer greves
chamadas pelo sindicato, mesmo não se percebendo injustiçado, é agir conforme
os ensinamentos de Jesus. Jesus ensinou o povo a não se omitir diante da
injustiça, é o que se deve fazer.
Pois
é, me tornei quarentão, sabias? Mas ninguém me dá mais que 39! Acho que meu
segredo, é:
1-Nunca
se case, é uma coisa extremamente estressante que só serve para comprar TV 42
polegadas mais rápido (custa só metade da prestação). Depois ficam os dois se
estressando sobre o que vai ser assistido naquela caríssima fonte de brigas.
2-Trabalhe
o mínimo possível, trabalho é uma besteira total que só serve para pagar as
prestações da TV 42 polegadas que tu tanto querias, mas só gerou frustração
porque não tem nada de bom para assistir.
3-Ande
bastante de bicicleta, dá para andar horas sem cansar muito e se vê ao vivo e
grátis o que se veria pela TV 42 polegadas engordando sentado em casa.
4-Ria
muito lembrando ou contando as piadas que ouviste no segundo grau e na
faculdade e que não passam naquela maldita, caríssima, frustrante e engordante
TV 42 polegadas digital!
É,
acho que é este meu segredo. Mas eu ainda hei de comprar uma TV 42 polegadas...
Sou humano. Mas exige coragem não casar, o Matrix assim exige! E é o valor mais
importante da sociedade! É difícil se perceber um ser integro, inteiro, não uma
metade dependente de outro para ser feliz. Tem que ter coragem de ir contra as
seitas do mundo que nos cerca, deixar de seguir os mandamentos sectários, se
converter a “não seita”, como fez Jesus.
Ao
longo da vida todos mudam. Sabe aquele negócio do Hipócrates (acho que era ele
que dizia isto, não lembro bem): Não se pode entrar no mesmo rio duas vezes. É
porque o rio muda a todo instante, são outras águas, apesar de ser sempre o
mesmo rio. Nosso corpo e mente também. Casamento não tem como dar certo. A
chupeta que tu gostavas aos dois anos de idade, agora já te constrange. O punk
rock que tu achavas o máximo dos prazeres na adolescência, agora já te da dor
de cabeça. Então tu pensas que agora és adulta e sabes escolher as coisas?
Erro! Seja humilde e admita, até Jesus admitiu erros maiores. Tu pensavas que
serias feliz para sempre e está longe disto. É ridícula aquela promessa do
casamento de que vai se ficar pra sempre com a mesma pessoa. O rio muda, as
pessoas mudam. A pessoa com quem tu casas hoje, amanhã já não é a mesma porque
isto é impossível! E tu também não serás o mesmo! Alias, pensando bem, até tem
como um casamento dar certo. Millôr Fernandes dizia que o casamento que não deu
certo é aquele que não acabou. Concordo com ele. É uma instituição estimulada
pelo capitalismo. Tu, se és sindicalizado, deves saber: é uma farsa. O
casamento foi um contrato social inventado para passar para as gerações
seguintes as posses. Como os pobres não tinham posses, não casavam. Madalena
era companheira de Jesus, mas não casada com ele, porque os dois eram nômades e
pobres. É uma bobagem dizer que se um relacionamento acaba não deu certo. Ao
contrário, deu muito certo, tanto que acabou quando um percebeu que o outro
teria que se sacrificar em favor da relação, se anular. Quando há respeito e
amizade, quando se percebe que o outro vai ter que abrir mão de suas
características peculiares para permanecer juntos, estar juntos passa a ser um
desrespeito a individualidade do outro, uma ofensa. Tu vês, percebes qual a
causa de 100% dos divórcios? O casamento.
A
gente sofre quando se separa porque nasce! Nasce do útero que é um
relacionamento, um casamento. Ao nascer do relacionamento, sair de dentro dele,
te dá muito medo, é normal. Como um nenê que nasce e acha que não vai
sobreviver fora do útero. Afinal, o útero do relacionamento te dava tudo que
precisavas. Sair de dentro do útero te deixa bem mais frágil, assim como o nenê
que até emagrece, mas te permite crescer. Nascer te permite ser um individuo
independente e te liberta da opressão do útero que te envolvia. Nascendo tu
podes abrir os braços e as pernas e ver o mundo com teus próprios olhos. Aos
poucos tu te flagras até contente, sem medo, confiante, obtendo prazer em
simplesmente estar só, de poder escolher o que ver na tv. As crianças pequenas
se sentem tão contentes de ter nascido que pulam e correm felizes sem nem saber
explicar por quê. Coitados daqueles que se sacrificam em prol de um mandamento
sectário de uma seita que distorceu completamente as idéias de Jesus. Jesus não
pregava o casamento, ele pregava o amor ao próximo, a solidariedade. Quem prega
até hoje o casamento são os sectários que vieram depois para distorcer tudo, os
capitalistas e os religiosos. A Globo! Tanto isto é verdade, que se tu quiseres
casar podes fazer na Igreja (distorções descaradas dos escritos antigos) e no
civil (o estado capitalista de direito), as duas instituições que mantém o
Matrix, a cultura imposta goela abaixo, o status quo. Eu como sindicalista
tenho que agir de forma cristã (não a cristã distorcida, mas a verdadeira,
contra a injustiça social), ser solidário, não posso me omitir, tenho que te
falar. Espero que tu tenhas logo uma visão, como Pedro teve a do Banquete, para
perceber que ser sectário não tem nada a ver. Ou um cachorrinho venha te dizer
alguma coisa para ti te converter, como Jesus se converteu, a “não seita”. Ao
não casamento sectário!
As
mulheres ensinaram Jesus, o tornaram não sectário. Algumas me ensinaram também.
Eu já fui sectário a respeito de casar, ter filhos, não ser subversivo ao
status quo. Mas cada uma que eu cruzava me ensinava algo. Me converteram. Mas
eu posso te ajudar também, e é isto que estou tentando fazer. Como já disse,
Jesus ensinou o povo a não se omitir diante da injustiça, a ser solidário, a
amar o próximo, é o que se deve fazer. Espero ter conseguido com esta mensagem.
Para um ateu que não crê em Jesus, até que eu falei bastante dele nesta carta,
não é?
Afinal, tu é ou não sectário? Todo sindicalista é sectário. Minha opinião, pois somos levados a crer em muitas coisas como se estivéssemos num Matrix, principalmente acreditar que sindicato defende interesse de trabalhador.
ResponderExcluirVeja o diálogo entre Neo e Morpheu no filme Matrix:
Neo: O que é Matrix?
Morfeu: Você quer saber o que é Matrix? Matrix está em toda parte [...] é o mundo que acredita ser real para que não perceba a verdade.
Neo: Que verdade?
Morfeu: Que você é um escravo,
Neo. Como todo mundo, você nasceu em cativeiro. Nasceu em uma prisão que não pode ver, cheirar ou tocar. Uma prisão para a sua mente.
Sugestão para teu próximo post: Pelo que lutam os sindicalistas
Um grande abraço.
Paulo Dornelles