Oximoro
A
expressão “desenvolvimento sustentável” foi criada pelas forças produtivas, no
início dos anos setenta do século passado, para tentar mitigar o clamor da
sociedade mundial diante da flagrante decadência do meio ambiente do planeta. Evidentemente,
é um oximoro que tenta equacionar duas forças políticas opostas, o
desenvolvimento econômico e a sustentabilidade ecológica do modo de vida humano
proposto pelas próprias forças produtivas. A expressão tornou-se pública a
partir da Conferência de Estocolmo, reunião de cúpula convocada pela
Organização das Nações Unidas (ONU) em 1972 na Suécia.
Desenvolvimento
sustentável soa como uma coisa muito boa. Atualmente, a expressão é quase um
mantra, pronunciado hipnoticamente por todas as correntes políticas. Mas, vamos
observar com cuidado a expressão. O prefixo “des”, em português, tem o sentido
de negação, separação, ação contrária. Desenvolvimento, então, é aquilo que não
tem envolvimento, não deseja se envolver, quer se distanciar do envolvimento. O
não envolvimento desta palavra se refere ao mundo natural. Quanto mais
desenvolvido, mais separado da natureza, mais se nega o pertencimento ao meio
ambiente comum a todas as espécies. Já a sustentabilidade busca exatamente o
contrário. Reconhece a necessidade do envolvimento harmônico da espécie humana
com a biodiversidade do ecossistema global. Em tese, o desenvolvimento
sustentável seria algo que conseguisse ser ao mesmo tempo ecologicamente
correto, economicamente viável, socialmente justo e culturalmente aceito.
A
poluição do ar e dos mananciais de água, a grande extinção de espécies e a
superpopulação humana, o aquecimento global e a modificação abrupta do clima, a
degradação dos solos e diversas outras ameaças ao meio ambiente que o modelo de
desenvolvimento econômico causou ao planeta e à humanidade, fez com que
surgisse um movimento político de oposição a industrialização da economia em
meados do século XX. Essa força política mundial conseguiu que a ONU
organizasse em 1972 uma conferência internacional para debater o problema de
proporcionar melhores condições de vida para a humanidade sem degradar o meio
ambiente. Essa conferência colocou em lados opostos os países já
industrializados e desenvolvidos contra os países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento
que não eram industrializados.
Os
países já desenvolvidos e industrializados gostariam que os outros países não
se industrializassem, para preservar o meio ambiente do planeta. E, de outro
lado, havia a posição dos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, entre
eles o Brasil. Esses defenderam que o desenvolvimento deveria ser buscado a
qualquer custo, para tirar seus povos, a grande maioria da população mundial,
das péssimas condições de vida em que se encontravam.
Então,
criou-se um impasse. De um lado, as nações desenvolvidas acusavam as
subdesenvolvidas de não querer fazer sua parte para salvar o que restou do meio
ambiente preservado do planeta. De outro lado, as nações subdesenvolvidas
acusavam as desenvolvidas de não querer dividir a riqueza de seu
desenvolvimento.
A
posição do Brasil naquela conferência, de desenvolver a qualquer custo,
inclusive o ambiental, parece, hoje em dia, um absurdo. Mas na época era
compreensível. A população do Brasil sofria privações como falta de moradia,
agasalhos, doenças e até fome e sede, coisas que para um país industrializado,
não aconteciam. Era justo que o país buscasse se desenvolver para que seu povo
atingisse o mesmo nível de conforto social dos países industrializados. Por
outro lado, a posição dos países desenvolvidos, de não querer a
industrialização dos países subdesenvolvidos para evitar uma degradação
ambiental de seus territórios, parece boa atualmente, mas é essencialmente
injusta, pois perpetua uma diferença social mundial gritante.
De
1972 para cá, a dificuldade de conciliar desenvolvimento com sustentabilidade
só se agravou. A humanidade não conseguiu desfazer o oximoro do desenvolvimento
sustentável. As duas posições da Conferência de Estocolmo continuam a
coexistir. Mesmo a população mundial tendo se desenvolvido tremendamente nesses
últimos 38 anos, também aumentou muito a degradação ambiental. As duas posições
tinham parcela de razão. Ao mesmo tempo em que uma melhor condição de vida
atinge as várias populações ao redor do globo, os sinais de uma mudança
climática em escala mundial que ameaça até a sobrevivência da espécie humana
são mais evidentes. Estamos na eminência de que o paradoxo do desenvolvimento
sustentável seja finalmente decidido pelo próprio planeta.
Adoro este seu texto, muito bom! já compartilhei com algumas pessoas!!!
ResponderExcluirGostei do título do seu blog. Comprei um livrinho e agora estou começando a lê-lo: Desobediência Civil, inspirou bastante o Gandhi. Acredito que o caminho é por aí, não dá para aceitar tanta LEI que só oprime. Por isso, viver é subverter sim.
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