sábado, 22 de novembro de 2014

Hoje fui num velório e enterro da mãe de uma aluna. A senhora foi atropelada, morte trágica e repentina de uma mulher jovem e querida na comunidade. Já acompanhei outros enterros aqui na Barra, mas esse me pareceu especial. O dia estava lindo, ensolarado, sem uma nuvem no céu, atmosfera limpa depois de alguns dias de chuva. A estrada cercada de flores da primavera, coloridas e cheirosas. As coxilhas de pastagem no alto da serra, acho que ali já é São Francisco de Paula, são um manacial de paz nessa temperatura agradável de novembro. Aqui e ali, umas vacas pastando tranquilas. Araucárias ornamentavam os cantos da cena. O cemitério no alto da colina de grama verdinha. Velhas cruzes de madeira lutam contra o tempo, esquecidas por familiares de outras gerações. O ritual de despedida católico é tão triste como em outras religiões, apesar de esses acreditarem que a morte é somente uma passagem para o paraiso, a pessoa foi para um lugar melhor e tudo está nos planos de deus. Que bom, tomara seja. Mas foi o enterro mais lindo que já vi, no dia mais bonito do ano, no lugar mais sereno do planeta. O coveiro cavou a terra e ali no chão, entre margaridas nativas, preparou a tumba. A família, chorando a matriarca, foi presenteada pela paisagem mais bela que alguém poderia imaginar para uma despedida. Lembrei do velório de minha mãe, claro. Foi o contrário, numa paisagem urbana, num edifício de túmulos, foi sepultada numa gaveta de concreto. A dor dessa cerimônia inevitável para budistas, hindus, judeus, critãos, ateus ou sei lá que outra orientação espiritual, seria melhor se sempre fosse como a de hoje. Mas nem todos tem a sorte de nascer num lugar tão maravilhoso como o pé da serra.