quinta-feira, 30 de julho de 2015

Sobre Esportes
Muitos assuntos são polêmicos numa sociedade, aliás, a maioria o é. Tome como modelo a religião, são as mais diversas, mas cada indivíduo acredita que a sua é a única que salva. Posições políticas existem quase que uma para cada cidadão, os partidos nunca agradam completamente ninguém. Poderíamos pensar inúmeras questões: Orientação sexual, preferências gastronômicas, pena de morte, aborto, casamento homoafetivo, valor do condomínio, opção modal de deslocamento urbano... Os exemplos vão ao infinito. Poucos assuntos, pouquíssimos, se é que existe algum, tem o poder de agradar a todos. Talvez um belo dia de sol incomode somente alguns poucos albinos. Mas, existe um assunto que é uma unanimidade, mesmo entre albinos. Exatamente por isso, está presente em todos os veículos de comunicação em massa e sua cobertura jornalística é acompanhada diariamente. Seus eventos são os únicos que tem transmissão ao vivo por rádio e televisão e mesmo quando se estendem por horas, o povo não se opõe e resignadamente os assiste até o final. Estamos falando dos esportes. Assim, os maiores prédios, de qualquer cidade, são sempre os estádios e a maior sala de aula, de qualquer escola, é sempre a quadra poliesportiva. Provas arquitetônicas evidentes da importância que o fenômeno esportivo tem para a sociedade. No imaginário popular, os esportes são uma fantástica panaceia para todos os males sociais. Pergunte a qualquer um na rua e um enorme rol de qualidades passarão a ser enumeradas para provar a irrefutável verdade que os esportes são bons e justos. O esporte afasta das drogas, desenvolve um corpo mais forte e saudável, promove a inclusão, promove a socialização e o companheirismo, desenvolve um carácter, aumenta a autoestima e tantas outras. Qualquer pessoa que ousar questionar a moralidade dos esportes estará blasfemando contra uma ordem cósmica e não são poucos os que ficarão pessoalmente ofendidos com tal heresia. Ainda que você, caro leitor, fique escandalizado com as propostas contra sensuais que estou prestes a fazer, de que os esportes não são essencialmente bons, te peço que faça um esforço e acompanhe meu raciocínio.
Vamos começar fazendo um resgate histórico. Depois de uma rápida investigação na internet, é forçoso constatar que todos os esportes modernos surgiram num curto espaço de tempo no final do século dezenove. Cerca de cinquenta anos foram necessários para que futebol, basquetebol, handebol, vôlei, rúgbi, tênis, beisebol, hóquei e até mesmo os jogos olímpicos fossem resgatados ou inventados. É no mínimo curioso que uma grande sanha criadora de atividades físicas competitivas ocorresse tão abruptamente. Mas, se buscarmos no histórico de cada modalidade as razões que fizeram com que brotasse e associarmos ao contexto da época, começaremos a perceber paralelismos importantes que esclarecem o vertiginoso aumento no número de opções e a gigantesca popularidade social do nosso objeto de estudo.
A revolução industrial do século XIX começou a exigir trabalhadores em números crescentes. Pequenos agricultores migravam para as cidades em busca de um emprego durante o ano todo, diferente do trabalho sazonal da roça. As jornadas de trabalho eram longas e sacrificadas. Para os donos de fábricas, operários eram somente mais uma ferramenta a ser usada no processo produtivo. Eram descartados ao menor sinal de perda de eficiência. Contra a banalização da vida, o proletariado começou a se unir em sindicatos e resistir à exploração desumana através de reuniões, assembleias e greves. Fábricas paradas não produzem e não rendem dinheiro. Assim, a união das pessoas na luta por melhores condições laborais, rendeu grandes avanços em direitos trabalhistas. Até hoje os sindicatos ingleses são conhecidos pela palavra "union", ou união. Para os oprimidos que vendiam sua força de trabalho, a união era o caminho para uma vida melhor. Mas, para os donos dos meios de produção, era o contrário, a união era prejudicial ao lucro do empreendimento. Ao mesmo tempo em que os operários buscavam uma maior união, os patrões buscavam uma maior desunião. Os dois lados dessa luta refletiam e estudavam como poderiam atingir seus objetivos. Muitas obras foram escritas naquele tempo que despertaram grande interesse e fundaram a sociedade em que vivemos atualmente. Eu destacarei somente duas: O Manifesto Comunista, de Karl Marx e Friederich Engels, de 1848 e A Origem das Espécies, de Charles Darwin, de 1859. Para você perceber o contexto histórico efervescente da época, 1863 é considerado por muitos como o ano do nascimento do futebol moderno.
Você pode, talvez, estar se perguntando, porque eu lembraria da Origem das Espécies para falar de futebol. Será que o esporte, de alguma forma, interferiria na teoria da evolução através da seleção natural? Bem, sim e não. Na evolução biológica da espécie Homo Sapiens, não. Mas na evolução social do Ser Humano, não tenho dúvidas. O controle social no século XIX era exercido pelas elites muito através do temor de Deus. Afinal, até reis eram ordenados por Deus. A ordem social era uma graça divina e, até hoje, mesmo no Brasil, as leis são escritas imaginando um Deus supervisor e controlador. No preâmbulo da constituição brasileira de 1988, lá está: "sob a proteção de Deus". E é uma constituição laica!!! Mas os legisladores devem ter pensado: vai que... Por mais tolo que isso possa parecer, a crença em um deus e seu temor, controla as massas a milênios. Entre em qualquer catedral de uma grande cidade europeia e te sentirás minúsculo. O simples som de um grande órgão numa catedral é amedrontador porque faz todo teu corpo vibrar. Castelos, onde moravam os reis e catedrais, a casa de Deus, eram a prova arquitetônica do poder de Deus, inquestionável. Milhares de vezes maior que as choupanas do povo. Charles Darwin era um fervoroso cristão. Muito crente, retardou a publicação de sua grande obra em mais de vinte anos porque, palavras dele: "Se publicar isso, vou matar Deus". O livro de Darwin ainda não matou Deus, mas com certeza acabou com o mito da criação cristã. O conhecimento de que Deus não criou o Ser Humano, que foi o acaso de uma longa evolução, lançava dúvidas sobre a própria existência de Deus. Sem um deus, não haveria o que temer e os reis eram só uma família de espertinhos. A plebe poderia se insurgir sem medo nenhum, com certeza seriam mais fortes. Este livro aterrorizou as elites da época. Uma alternativa ao temor de Deus tinha que ser logo inventada para que as elites não fossem atropeladas no seu status de mandões.
Bem mais compreensível para o surgimento dos esportes, foi a influência da obra de Marx e Engels sobre os trabalhadores europeus daquele tempo. No Manifesto Comunista, eles relembravam as várias formas de opressão já vividas ao longo da história e incitavam os menos favorecidos socialmente a reagir. Como Darwin, eram outros subversivos à ordem vigente. A organização da sociedade não é uma coisa divina, mas sim inventada, podendo ser reinventada a qualquer momento. No final de seu pequeno livro, exortam a união e ensinam a única forma possível de vitória: "Trabalhadores do mundo, uni-vos, vós não tendes nada a perder a não ser vossos grilhões". É curioso, na mesma época da publicação dessas duas obras, o Manifesto e as Origens, meados do século XIX, uma horda de trabalhadores oprimidos fugia da Europa rumo ao Brasil atraídos pela oferta de terras. Eles vieram ávidos por se tornar donos dos meios de produção e, portanto, opressores. Não é incrível que o sonho do oprimido seja tornar-se opressor?
Ora, a essa altura você já entendeu as estratégias dos proletários diante da opressão, a união ou a fuga. Repare que ambas estratégias muito antigas, até mesmo com inspirações bíblicas: a fuga dos judeus do Egito em busca de Canaã, a terra prometida e a união solidária, amai-vos uns aos outros e repartam o pão. Mas, e a estratégia dos patrões? Bom, agora, diante dessa simples pergunta, tenho certeza que já lhe caiu a ficha. A estratégia dos patrões contra a união dos trabalhadores foi a criação dos esportes. Um verdadeiro presente de grego, um cavalo de Tróia que é recebido com alegria, mas na calada da noite se prova destruidor.
As elites também fazem reuniões e assembleias, mas nelas planejam como combater as greves e as lideranças dos trabalhadores. Diante da necessidade de destruir a união laboral, os donos dos meios de produção imaginaram uma forma ardilosa e perversa que fosse alegremente aceita pelo proletariado sem levantar suspeitas ou provocar greves. Já que o controle social através da crença em Deus estava ameaçado, uma nova forma de cabrestear as massas deveria ser criada. Uma brincadeira foi proposta pelos patrões, e para isso até cederiam tempo durante o horário de trabalho! Perceba a alegria que essa proposta causou na classe trabalhadora: parar de trabalhar para brincar! A própria palavra, "esporte", foi cunhada nessa época, vem do francês antigo "desport", que significa "recreação". Os patrões investiram muito nessa ideia, pesquisaram antigas brincadeiras, resgataram os jogos olímpicos, exercícios de guerra, criaram jogos, espaços, regras, até uniformes, tudo para que se ensinasse e se difundisse como alegre e bom, justo e altruísta é a competição no lugar da solidariedade. Competir, a lei da selva, passou a ser ensinado como moralmente lindo através do esforço dos industriais temerosos que seus funcionários lessem Marx ou Darwin. Conforme friamente planejado, uma equipe de trabalhadores brincaria junto, mas contra a outra. Assim, soldadores, que trabalham juntos, brincariam juntos, mas contra os caldeireiros. A mensagem que se passou, foi: Há que se competir, atingir metas de produção, se esforçar muito, mas só os mais competitivos vão sair vencedores. A solidariedade deve ficar restrita as equipes de trabalho, para que trabalhem unidos. Mas outras equipes são a competição a ser eliminada. Os patrões colocaram os peões numa guerra simulada. Despudoradamente utilizaram até a mesma nomenclatura da batalha ("Batalha dos Aflitos") para a brincadeirinha que inventaram: Ataque, defesa, retranca, ofensiva, mata-mata, eliminar, artilheiro, arena, conquistar, campanha, divisão e tantas outras, sem falar em vitória e derrota.
Assim, aqui estamos agora, os trabalhadores do mundo não se uniram nem deus morreu. A lei "permite" aos trabalhadores se unirem em sindicatos, mas em diferentes categorias. Alegremente, os trabalhadores, mesmo os mais conscientes, acreditam que ainda lutam, mas sem perceber, jogam futebol depois da missa ou culto no final de semana e torcem para algum time que é "do coração". A união do proletariado, que ainda era embrionária, foi sufocada pelos esportes e uma montanha de novos slogans ideológicos capitalistas se enfileiravam na frente do povo, "o importante não é vencer, é competir"! Provavelmente, a sua percepção a meu respeito agora é que sou um ateu comunista fanático e você segue firmemente fiel as suas crenças de que o esporte é essencialmente bom, afinal, eu ainda não desmenti nenhum dos argumentos a favor do esporte e suas convicções esportivas permanecem intactas. Não duvido, tal é a fé nos esportes, que você está me imaginando um comedor de criancinhas imoral. Mas não, eu lhe garanto, o mais provável é o contrário!
Bom, então vamos lá, passemos a analisar a moral do esporte a partir do ponto de vista filosófico. Nicolau Maquiavel, filósofo do século XVI, escreveu algumas obras que ensinavam as elites a se manter no poder não importando como. Assim, o adjetivo "maquiavélico" se refere a uma interpretação dos escritos de Maquiavel em que a conduta deve ser imoral. Seria uma conduta má, um governante que só pensa em se perpetuar no poder, não interessando os meios para isso se concretizar. Mas, interpretações mais recentes, apontam para o fato que talvez Maquiavel estava escrevendo para os oprimidos, alertando-os de maus governantes, suas mentiras e maquinações. De tal forma que nunca saberemos, com certeza total, se o autor era um aristocrático maquiavélico ou um companheiro de luta. O fato é que ambas as interpretações ensinam muito para os interessados, não importando de que ponto de vista estamos avaliando a conduta. A filosofia de Maquiavel é então, pragmatista: atingiu seu objetivo de se manter no poder, agiu bem, não atingiu seu objetivo, agiu mal. Pragmatismo é uma moral consequencialista, o valor da conduta não está nela mesmo, mas nas suas consequências, nos resultados. A frase: "os fins justificam os meios" não é desse pensador, mas se aplica muito bem a sua filosofia. Perceba que, em se falando de esportes, a filosofia pragmatista consequencialista de Maquiavel, cai como uma luva. Tanto faz como será, o importante é que tragamos a vitória. Se jogarmos no limite da regra ou até infringirmos a regra, mas o árbitro não percebeu, ótimo. Se deixarmos uma nação inteira chorando, também tanto faz, o importante é que nós estaremos sorrindo.  Esportes ensinam a excluir: duzentos correm a prova, mas no pódio só tem lugar para três. Para ti atingires teus objetivos os outros necessariamente precisam não atingir, um só ganha se os outros saírem derrotados... Os esportes seguem as premissas filosóficas pragmatistas a risca. A vida é uma competição: passou no vestibular? Então a educação foi boa!!! O meu time ganhou? Então a educação física foi boa! Eu me dei bem e foda-se o resto, I am the best and fuck the rest. Maquiavel ensinou a lição, pode ser lida de um ou outro modo, mas o uso que farás dela é uma responsabilidade moral tua!
Mas o esporte não é maquiavélico!!! Você grita, horrorizado. Todos participam com alegria e participam porque querem!! Não é a mesma coisa que governantes astutos e ardilosos tentando enganar o povo sem que saibam. No esporte todos sabem de tudo, é honesto. Poderíamos então refletir a partir de John Stuart Mill, outro filósofo consequencialista, mas muito mais recente, do século XIX. Diferente de Maquiavel, ele pensava que se a maioria das pessoas se beneficiam com a conduta, então a conduta foi boa. Se a maioria das pessoas gosta de esportes e quer que sejam praticados, então tudo bem. Todo mundo está sabendo o que eles significam, suas regras, e não se importam se as vezes sofrem derrotas ou ficam tristes. A vida é assim mesmo, tem alegrias e tristezas, vitórias e derrotas e temos que aprender a conviver com elas. Isso, aliás, é apontado como mais uma das qualidades do esporte. Mas, agir como prega Mill não significa agir bem. A maioria da população alemã apoiava Hitler, usando um clássico exemplo de maioria burra. A maioria da população apoiava a escravidão no Brasil no século XIX. O sufrágio ser só masculino era quase uma unanimidade no começo do século XX. Hoje essas coisas parecem até absurdas, mas a longa evolução moral humana alterou para melhor uma série de coisas que a maioria apoiava e agora não apoia mais. Felizmente a cultura muda e tem mudado para um mundo mais justo e eticamente mais sofisticado.
Proponho avançarmos na análise moral do esporte, vamos estudar outro cidadão: Immanuel Kant. O que você entende por "conduta ética" tenho certeza que vem das ideias deste senhor. Isso que nem sei quem sois, caro leitor, mas os princípios que são hoje aceitos como aqueles que devemos seguir foram escritos por ele. Esse pensador, há quem diga que seja o mais importante filósofo da moral de todos os tempos, dizia que a conduta não vale por suas consequências, como queriam Maquiavel ou Mill, a conduta vale por ela mesma. Então, aja de tal maneira a pretender que todos ajam seguindo os mesmos princípios que você agiu. Todas as decisões morais devem ser pautadas pelo raciocínio da universalização possível. Quando você age de maneira a pretender que o outro não possa fazer o que você fez, você agiu mal e injustamente. Perceba que, para Kant, os esportes são obviamente imorais. Lembra do Guga Kuerten, aquele famoso tenista brasileiro que ganhou 3 vezes Roland Garros? O Tenista quando rebate a bola, rebate de tal modo que joga o mais longe possível de seu adversário para que este não alcance e não possa fazer o mesmo, rebater a bola. Guga fazia isso muito bem, batia tão forte, tão rápido e tão distante do adversário que seus oponentes não alcançavam a tempo e perdiam o jogo. Não poderia ser diferente, para vencer e obter o prestígio, a fama, o dinheiro, o reconhecimento, ele tinha que seguir as regras que não deixam dúvidas: ele TINHA que agir assim. Guga tinha que fazer o outro perder para que seu objetivo fosse atingido. Suas vitórias foram sempre à custa de derrotas de vários outros jogadores que cruzaram com ele no campeonato. Se formos observar um jogo de tênis, a atividade física que o praticante exercita, os gestos que faz, são iguais aos movimentos de uma pessoa que joga frescobol na beira do mar. Ou seja, como atividade para o desenvolvimento físico não há diferença nenhuma. A diferença é moral, está no objetivo, no tênis o jogador quer que o outro não consiga rebater e no frescobol é exatamente o oposto. No frescobol a graça está em fazer que o jogo se perpetue, que ambos os jogadores atinjam seu objetivo, que é fazer com que a bolinha não caia na areia ou na água. Qual lhe parece moralmente mais digno, tênis ou frescobol? Kant afirmará sem hesitar: o frescobol. No frescobol não há competição, mas sim cooperação entre os envolvidos. Eu concordo com Kant. É difícil não concordar com ele. Mas, se você ainda está relutante, lembre da Bíblia e de Jesus (vai que...). Kant é Jesus sem Deus. Mesmo ateus encontram na Bíblia orientação moral. Há grande chance que você, leitor, seja cristão, a maioria da população brasileira é. O que Kant orienta não é amai-vos uns aos outros? Faça para o outro o que gostaria que fizessem contigo. A moral cristã repudia veementemente uma atitude como a de um esportista que impõe derrotas aos outros. Ao contrário, os cristãos pregam que todos devemos buscar uma igualdade fraterna, que todos sejam incluídos e que nossas atitudes sejam boas por elas mesmas, não por alguma consequência pragmática. Em nenhuma passagem bíblica você encontrará Jesus e os apóstolos jogando uma pelada contra os samaritanos na Galiléia. Ao contrário, mesmo Samaritanos, povo impuro para os judeus, podiam agir bem e seus exemplos deveriam ser seguidos. Não tinha dois times para Jesus. Leprosos, cegos, coxos, judeus, gentios, homens, mulheres, gays, crianças, galileus, samaritanos, jogam todos no mesmo time!!

No exercício de minha profissão de professor de Educação Física, cruzei com argumentos a favor do esporte quase que diariamente. Toda criança e todo pai os conhece e os gritam, orgulhosos, ao me ver nos corredores da escola: "Vamos fazer uma física para animar, sôr?!!!" Mas, argumentos contra o esporte são admitidos com constrangimento, em voz baixa em confessionários discretos, em conversas particulares, como se estivessem admitindo pecados graves: "Eu parei de jogar bola depois que me estourou o joelho de novo..." Sempre esperam de mim alguma penitência, alguma recomendação de quantas flexões sobre o solo terão que fazer para se redimir, como se eu fosse um padre a recomendar ave-marias e pais-nossos. Muitas vezes tenho vontade de dizer: bem feito! Quem mandou! Mas compreendo o paradigma no qual o cidadão leigo se encontra envolvido. Sou uma voz isolada diante da TV Globo, Bandeirantes, Record, todas as rádios, todos os jornais, todas as revistas. Mas não posso me calar, percebo o esporte como maquiavélico mesmo! Além de ardiloso, vil, imoral, perverso, repugnante, indecente e até obsceno. Acredito que é uma das causas da diferença social, da exclusão, da ansiedade que leva jovens as drogas, de lesões graves, de personalidades desprezíveis e tantas outras mazelas da sociedade. Cocaína, por um longo tempo, era tida como um excelente remédio. Depois se percebeu que não, fazia mais mal do que bem. Cigarros e álcool também. Existem acaloradas discussões se essas drogas devem ser legais ou ilegais, todos tem argumentos a favor e contra a legalização e aos efeitos das drogas. Mas há um consenso que não devam entrar na escola. Os esportes não são substâncias, mas também interagem com nosso corpo, nossos genes e nossa organização social e ética, são intangíveis que interagem com nossos memes, mas que no meu entender causam muito mais mal do que bem na sociedade. Todos os argumentos a favor dos esportes são facilmente destruídos com uma simples investigação atenta aos fatos, não às paixões ou crenças. Outro texto, tão grande quanto esse, pode ser escrito para debater, um a um, cada um desses argumentos. Eu vos garanto, caro leitor, sou capaz de destruir cada um deles. Pense comigo: Se fosse uma coisa boa, para que três ou quatro juízes olhando o evento? Se faz bem para a saúde, para que uma ambulância com maqueiros prontos para agir na beira do gramado? Se fosse includente, porque no pódio só cabe três? Vou te deixar pensando um pouco até o próximo texto! Se você, leitor, chegou até aqui comigo, obrigado. És um cidadão de um mundo melhor!

sábado, 4 de julho de 2015

Aqui na Barra eles tem umas frases e palavras características, endêmicas, digamos. Algumas me chamaram a atenção desde o início. Chamar Kombi de "combis", bêbado de "bêlbu", qualquer geringônça a motor de "tobata agrícola", um lugar com muitos eucaliptos plantados é o"calipal", uma araucária é uma "pinheira" e um pinheiro é um "liote", alimentar os animais é "tratar os bicho" e os cachorros não latem, mas "acoam"!!. No começo eu não entendia direito as coisas e, quando entendia, não gostava. Aos poucos, o cara vai se acostumando. Chega um momento que quando tu vais falar não encontras no teu repertório mental outra expressão que não aquela local. Pronto, estás inculturado. Já passei algumas vezes por isso, quando morei na Holanda ou em Florianópolis. Agora à noite, acendi o fogão e fui na rua buscar mais lenha. Ao reentrar em casa só pensei numa frase para explicar para mim mesmo o que senti, um destes memes endêmicos. Cheguei a falar alto sozinho em casa: Pensa numa casa quentinha!"