terça-feira, 23 de agosto de 2016

Choveu o final de semana inteiro, não deu para trabalhar no pátio. O Vanderlei até apareceu, mas só para prosear. Ficamos no redário, tomando coca e café, comendo bolachas, fofocando e rindo de besteiras. Comentei com ele a foto que consegui do tucano. Há quatro anos que tentava, já tinha tirado outras, mas de tão distante nem se distingue as folhas do bicho, não tenho zoom poderoso. Ele me contou o quão próximo já esteve de alguns, tem frutíferas encostadas nas janelas de casa. “Nessa época a carne é mais macia, porque ele só come frutas...” Daí riu olhando minha cara de espanto... Nunca sei se é verdade ou mentira suas piadas. O assunto passou a ser pássaros. Na nossa frente havia um desfile de bichos voando da ameixeira para a goiabeira e dali para a aroeira e sua pimentinha rosa. A tarde chuvosa, bem fria, uma garoa batendo constante, talvez fosse a ideal para buscar alimento. O trânsito estava movimentado aqui na frente da casinha! Para mim, que sou da cidade, todos tem um único nome: passarinho. Mas o Vander sabia os nomes, os hábitos e o canto, me debochava: é que eu sou um verdadeiro ornitólogo! E ia me mostrando. Ó, aquele ali é um trincaferro, ele tem o canto assim... e assoviava. Aquele ali com o peito vermelho, meio gordinho, é um surucuá. Aquele com um rabão é o alma de gato, tem esse nome por se mover muito silenciosamente. E assim ia a tarde. Uma saíra verde passou e contei, orgulhoso, da vez que uma dessas deu de cara na minha vidraça e pude analisá-la de perto. Vimos outras saíras, verdes, sete cores, militares, diz que tem trocentas espécies de saíra. Vimos arapaçus, cambacicas, corruíras, coleirinhos, beija-flores grande preto e pequeno verde, chopins preto brilhante, bem-te-vis, bem-te-vis rajados. Um que outro ele me dizia: esse eu não sei o nome, mas tem bastante. Lembrei da minha infância, em Porto Alegre só tinha pardal, sabiá, joão de barro e bem-te-vi, um que outro beija flor. O Vanderlei não estava muito impressionado, mas eu sim, feliz de morar agora num lugar tão rico. Me contou então de um bicho raro que havia avistado uma única vez, um gavião tesoura. Fiquei com aquele nome na cabeça, procurei na internet para ver sua aparência. Agora vou ficar cuidando, ainda quero ver um gavião tesoura!