domingo, 11 de outubro de 2015

Quinta passada estive em Porto Alegre. Havia muito tempo não ia num dia de semana comum. Saí da rodoviária e já fiquei horrorizado. Um congestionamento incrível subia os viadutos cheios de carros nas três pistas. Um senhor irritado meteu a cabeça para fora de seu carro e chamou outro de fdp. Não vi acidente nenhum, era só um movimento normal. Atravessei a passarela cheia de imigrantes vendendo badulaques de toda espécie embaixo de chuva. No outro lado da complexa avenida, um par de seres humanos sujos, molhados e maltrapilhos, nem consegui identificar o gênero, talvez um casal, faziam fogo no lixo embaixo de um vão de concreto e aproximavam as mãos para se aquecer do frio enchendo a rua de fumaça branca e malcheirosa. A mutidão de transeuntes inertes passava sem nem percebê-los ali, apesar da sufocante atmosfera, o único aparentemente chocado com as cenas era eu. Sigo caminhando com dificuldade, a cidade está cheia de cercas e bretes que conduzem os seres humanos como ovelhas entre um mar de carros e ônibus barulhentos. Sou obrigado a obedecer luzinhas coloridas de um poste à distância que me autorizam ou não a seguir adiante. Subo uma ladeira cercado por edifícios, nem se vê mais que ali é um morro ou mesmo a vista a partir dele, apesar da proximidade com o lindo Lago Guaíba. Onde será que essas pessoas plantam seus aipins? Não vejo nem uma simples árvore, nem um passarinho, mas muitos "índios" de várias tribos diferentes: punks, emos, metaleiros, hippies, surfistas, cada um com suas tatuagens diferenciadoras. Eu que agora, alegremente, me tornei um redneck, um camponês matuto, me impressiono com a fauna do local. Muitas lojas de instrumentos musicais com cavaquinhos cor de rosa na vitrine, mas não escuto música em nenhum lugar, só ruídos de motor. Chego na Independência, ouço buzinadas e uma confusão, passa correndo por mim um adolescente negro seguido por um adulto branco gritando pega ladrão. A população, acostumada com aquilo, não dá muita bola, só uma senhora comenta com a outra na parada do ônibus: "Tinha que ser neguinho". Entro na Santa Casa e me perco lá dentro, é uma floresta imensa de hospitais. Pergunto para um, pergunto para outro, finalmente chego onde devo ir para um tramite burocrático. Faltou o carimbo e o formulário 381-ft preenchido. Tenho que pegar uma condução para outro lugar da cidade. Consigo me deslocar com rapidez e arranco de um protocolo a promessa da resolução de meu problema. Saio do Ipê e atravesso a rua bem asfaltada, no canteiro central uma armadilha para pedestres, afundei meu pé no barro. Escolho almoçar no shopping antes de voltar para casa. Ah, os shoppings!!! Não chove dentro, não tem barro no chão, não tem buracos na calçada que é de granito branco, não entram pobres, negros só atrás do balcão, a atmosfera é limpa e a temperatura agradável, várias lojas sem assaltantes onde eu posso escolher onde gastar meu dinheiro! O paraíso dos incluídos brancos capitalistas. Whitetopia! Comi, paguei bem caro por um prato de comida e saí correndo, o mais rápido que pude, da cidade. Quem é que inventou as cidades? Quem é que inventou os carros? Quem é que inventou o capitalismo? Não sei, mas obviamente não deu certo! As cidades surgiram entre os rios Eufrates e Tigre no Oriente Médio porque ali havia uma floresta luxuriante e abundância de água. Mas, atualmente as notícias que chegam de lá não são boas. Agora há um deserto e guerras mis entre etnias de religiões diferentes. O carro surgiu em cidades grandes como Detroit, mas também, as notícias não são alvissareiras. A indústria automobilistica ruiu e a cidade faliu. As grandes avenidas estão rachando e as favelas brotando. O capitalismo surgiu na Holanda, entre comerciantes que vendiam e compravam tulipas, veja só! Você tem ouvido falar muito do mercado de tulipas holandês? Essas três instituições, cidades, capitalismo e automóveis, precisam de muita energia para crescer e viver. Enquanto havia energia sobrando e espaço para crescer, alguns argumentam que funcionaram. Até prometiam um estado de bem estar social para todos, até agora só visto dentro de shoppings para alguns poucos brancos incluídos. Essas instituições encontraram limites físicos, o mundo é finito. Já estão comemorando até que acharam petróleo a 7km de profundidade no mar e água em marte!!! O que vi em Porto Alegre? A cidade inteira é uma grande caricatura de urbanização descontrolada, desperdício de energia, diferença social, indiferença social, burocracia, poucos lugares para plantar aipim, nenhum lugar para beber água limpa, racismo, tatuagens diversas, cavaquinhos cor de rosa, pedestres não são bem-vindos, gente doente dentro e fora dos hospitais. Concluí que Porto Alegre tem muitos hospitais porque é uma sociedade doente, a cidade está obesa e com muitos problemas de saúde. É uma senhora rica, mas que não se move mais e sua conta bancária está no fim, está a beira da morte, que pena. Mesmo os maiores impérios colapsaram por não respeitar os limites ambientais, de roma e egípcios, aos incas e gregos só sobraram bonitas ruínas. Portoalegrenses, fujam para as colinas!!!