sexta-feira, 22 de dezembro de 2017


Hoje cogitei escrever no meu wall do facebook: “Help me if you can, I’m feeling down”: Very British and true. Estava um calorão saariano e eu sozinho em casa, arrumando um cano na rua. Pensei em tomar um banho de rio, talvez melhorasse meu humor e isso é uma das atrações da Barra. Coloquei protetor solar e uns calções e sai de tronco nu e chinelos em direção a pinguela que atravessa o córrego. Caminhei pela trilha na mata até o poção na frente do Refúgio Verde. Já tinha umas três pessoas se banhando lá, conversei um pouco e entrei na água que estava uma delícia. Meu humor já estava melhor. Uma grande tempestade se formou e assustou meus companheiros de banho que temiam ficar presos pela subida do rio. Eu fiquei ali, nadando peito contra a correnteza sem mergulhar a cabeça para olhar a paisagem. Agora mais só, fiquei vagando na água com meus pensamentos. A chuva começou a cair forte e gelada fazendo a superfície do poção arrepiar. Olhei no entorno, a mata, o rio, a chuva, as nuvens, o vento e eu, ali, interagindo. Nadei crawl alguns instantes subindo a correnteza para depois me deixar levar um pouco pelo fluxo. Me senti uno com aquilo tudo e percebi que a natureza me via assim também, parte dela. Minha respiração era como o vento, o marulhar do meu nado como o ruído da chuva no rio. Somos somente elétrons, prótons e nêutrons, dançando no universo, eu, as pedras, o rio, o vento. Uma grande emoção me inundou e me flagrei bem feliz. Lembrei porque tinha vindo morar em Maquiné. Olhei para os lados e achei bela a cena onde eu era parte do quadro. Caiu um raio próximo e achei melhor sair da água. Atravessei a pinguela de volta e caminhei pela estrada sob aquele aguaceiro. Meus braços latejavam do esforço de nadar, ainda ofegava, mas meu corpo estava relaxado e refrescado. Minha mente estava lavada, os místicos diriam: a alma lavada. Aliás, que bobagem o dualismo corpo-mente. Tá na cara que somos corpente, uma coisa só, una com a natureza. Lembrei de alguns novos amigos que fiz aqui na cidade, na minha nova casa e como ela está ficando do jeito que gosto, do trabalho braçal pesado que arranjei, da hérnia que ganhei com ele, de como minha vida mudou. Me emocionei de novo, agora mais forte, ria e chorava, um doido caminhando sob a chuvarada. Senti coisa semelhante quando vi baleias saltando em Imbituba. Uma emoção tão forte que eu queria partilhar. Será que as pessoas que moram aqui a mais tempo já riram e choram semi nus embaixo da chuva como eu hoje? Será que é por isso que vieram morar aqui, por que sentiram algo semelhante? Quem mora tão perto do rio, já deve ter vivido emoção dessa magnitude. Porque nunca comentaram comigo? Nós temos que conversar mais. E os guris e gurias, criados soltos por essas terras mágicas, quantas coisas eles podem contar. Porque nós não nos reunimos para conversar?

Nenhum comentário:

Postar um comentário