sábado, 27 de outubro de 2018


Ontem tive que ficar com o prézinho a tarde toda. Faltaram alguns professores. Depois do recreio choveu e tivemos que ficar na sala. Deixei brincar com os legos. Impressionante como as crianças pensam em armas. Conhecem os nomes (fuzil, pistola, revólver, metralhadora) e brincam de matar. Não admira o coiso ter tanto eleitorado. Então, eu proibi de construir armas. Passaram a fazer naves espaciais e viaturas policiais que se envolviam em guerras imaginárias. O mundo deles é uma batalha diária. Tirei os legos e os coloquei a desenhar com o tema: a aula que tivemos na pracinha. Como não ofereci nenhuma atividade competitiva, só circuitos de motricidade ampla onde todos eram incluídos de forma igual, eles pararam com o belicismo. Pedi que desenhassem as árvores, as flores e nós mesmos, bem coloridos, como estávamos felizes e sorridentes, sem brigas, no pátio antes de começar a chover. Aos poucos, os pais foram buscando e lembrei que aqueles alunos vão ficar todo final de semana longe da educação planejada, profissional. Refleti sobre a importância da escola, da Educação Física, da socialização e da intervenção do professor na construção de uma cultura de paz. Meus esforços vão ter concorrência amadora forte.
No meu entender, política, educação pública e bem estar social são indissociáveis. A política nos deu grandes progressos sociais. No tempo das cavernas, não havia direitos, o mais forte fazia o que bem quisesse. Matava, estuprava, roubava, conforme seus desejos e caprichos. Os mais fracos se organizaram e lutaram por mais justiça social. Unidos, venceram os tiranos. Depois a sociedade foi se sofisticando. Na antiguidade não havia eleições, o rei mandava. Daí alguns que achavam aquilo injusto, lutaram por repúblicas e conquistaram parlamentos e eleições. Mas ainda assim, escravos e mulheres não votavam. Os oprimidos se uniram de novo e venceram, acabou a escravidão e as mulheres e ex escravos também poderiam votar, ter voz na sociedade. A educação profissional, as escolas com seus professores, eram um luxo da elite. Mas a grande luta por justiça social, o desejo político de uma grande maioria pelo bem de todos, tornou a escola universal. A mesma coisa aconteceu com saúde e segurança pública. Ainda estamos caminhando em direção à utopia do bem para todos todo tempo. Sabemos de antemão que nunca chegaremos, mas caminhar para esse horizonte nos faz avançar muito.
Toda escola tem um Projeto Político Pedagógico, é lei, tem que ter. É um plano, onde reunidos, os professores escrevem o que pretendem, quais seus objetivos, seus sonhos, a sociedade que pretendem construir naquela escola. Foi uma grande conquista da luta por uma educação melhor. É um documento importantíssimo, mas atualmente bastante negligenciado. Os pais nem sabem que existe, os professores nunca leem. Muitas vezes é escrito às pressas, numa única tarde, só reescrevendo algum trecho de PPP’s antigos. Deveria ser escrito com tempo, com participação de todos, com interesse por saber se tratar da constituição futura daquela comunidade. Mas, a política foi considerando mais importante outras coisas e foi esquecendo da importância de sentar e conversar para decidir os princípios da educação e daquela escola específica. A palavra “política” vem do grego, traduzindo livremente quer dizer o bem de todos. Porém, atualmente, as pessoas dizem que odeiam política, que não querem conversar sobre isso. Como alguém pode não querer o bem de todos? Como foi que as políticas anteriores levaram a um distanciamento tão grande do seu significado que torna as pessoas avessas ao seu próprio bem estar?
Precisamos retomar o “político” do projeto pedagógico. Eu sou parceiro!
Educação a distância, todo cidadão ter uma arma de fogo, jogar no lixo o ECA, cada um por si e dels por todos? Tô fora, amanhã sou Haddad. Luto pela união solidária entre as pessoas, luto pela defesa dos mais vulneráveis, sou contra a volta à competição da selva onde quem tiraniza é quem tem mais poder de fogo.


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