quarta-feira, 6 de novembro de 2019


Sou racista, tenho que admitir. Depois de adulto percebi esse fato. Só me dei conta com a formação continuada nas escolas que trabalhei. Se não fosse a explicitação do conhecimento nos cursos que freqüentei, jamais saberia. Comecei a investigar porque tenho essa mácula no meu perfil. Nas conversas familiares descobri que meu avô paterno dizia: Não sou racista, mas essa negrada...!!! Os colegas de escola contavam piadas sobre negros, principalmente sobre sua cor ou sua aparêcia. O lápis de cor salmão era chamado de “cor de pele”, mesmo não tendo na escola inteira ninguém com aquela cor na pele. Havia também, três ou quatro ditados sobre a desonestidade, preguiça, ignorância dos negros que eram corriqueiramente repetidos. Normalmente, nas novelas da TV sempre os personagens negros eram serviçais dos brancos. Cozinheiras, motoristas, mordomos, camareiras negros. Na sessão da tarde, seguidamente passava um clássico do cinema, Cleópatra. De novo, Elizabeth Taylor, uma americana de olhos azuis e pele alva, fazia o papel da rainha africana. No programa Os trapalhões, Mussum, o negro do quarteto, era retratado como bêbado, ignorante, tolo e que falava tudo errado. Chocado fiquei ao descobrir que o maior escritor brasileiro de todos os tempos, Machado de Assis, era negro, pois todos os quadros que tinha visto dele até hoje era de um ser humano de tez clara. O mesmo aconteceu com outros lumiares brasileiros: o poeta Cruz e Souza, o compositor Lupicínio Rodrigues, O presidente Nilo Peçanha, O político José do Patrocínio, o advogado Luíz Gama, entre tantos outros. Esse último teve sua habilitação reconhecida 133 anos após sua morte. O time de futebol Grêmio Football Porto-alegrense foi fundando em 1903 somente para descendentes de alemães. Depois de alguns anos, em 1909, outro time foi fundando para incluir descendentes de outros países, por isso o nome de Internacional. No entanto, o inter só aceitou negros a partir de 1927. O Grêmio só passou a admitir negros na década de 1960! Jesus era judeu, povo que fugiu do Egito para a terra prometida da palestina. Jesus era descendente de africanos, obviamente negro. Porém, todos os filmes e pinturas que vi até hoje sobre Jesus era com atores loiros de olhos claros. Quando o papel é bom: um deus, uma rainha, uma escrava alforriada que se dá bem no fim, o negro é retratado como branco. Quando é um bandido mau, um mau caráter, um bêbado, até o branco é pintado como negro. Não é de graça que sou racista, somos todos, fomos educados para sê-lo. Aí está a importância da formalização do dia da consciência negra. Precisamos falar sobre esse assunto, debater, expor. Não falando, ou fingindo que o racismo não existe, como acontecia comigo na infância, perpetua uma sociedade opressora excludente e que segrega por cor da pele. Mesmo dando aulas sobre o tema, acredito que umas três gerações ainda sofrerão com isso. Lutemos, pois o racismo é inço forte, tem que ser arrancado do solo nacional com decisão. Como fazem os alcoólicos, admitem seu vício e repetem sempre que são alcoólicos em recuperação, nós, racistas, também temos que admitir nosso racismo e, por mais vinte e quatro horas, lutar contra isso. Evite hábitos, lugares e pessoas do tempo de racismo. Aja, faça sua parte, melhore a vida da sociedade brasileira.



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