quinta-feira, 19 de março de 2015

Fomos convidados a almoçar na casa de um casal na estrada para a cidade. Chegamos um pouco mais cedo e ficamos conversando na área. Já idosos, Dona Pascoalina e Seu Domingos, que testemunharam a Maquiné sem luz, sem TV ou internet, falavam através de imagens. Cada causo contado era um pequeno filme que se formava na minha imaginação, perfeitamente montado, com introdução, iluminação, ambientação, figurino, edição de imagens, humor, desenvolvimento e conclusão. Havia até pausas no discurso, afinal, na vida real e nos filmes as pausas são necessárias para compreensão e deleite. Lá pelas tantas eu não aguentei, pedi um papel e lápis e comecei anotar. Não adiantou muito, enebriado com aquelas histórias, me distraia atento aos detalhes e esquecia de escrever. Que pena. Mas ainda consegui registrar algumas passagens. Prestes a completar 60 anos de casados, perguntados como se conheceram, os dois descreveram momentos que lembravam. Seu Domingos contou: "Entrei na cozinha porque senti o cheiro, sabia que a mãe dela estava cozinhando e ela estaria ali. Era uma mesa larga, de tábua inteiriça, de baguaçu... Ela tinha entalhado num canto um 'D' e um 'R'. Aí eu pensei: pronto." E Dona Pascoalina: "Daí ela me disse: se tu namorar esse alemão, te dou um corte de tecido." A comida do almoço estava uma delicia, feita em fogão a lenha e com muita variedade. com a mesma riqueza de detalhes das histórias e até a sobremesa era caseira. Foi um momento muito bacana! Como eu queria ter visto aquela mesa de baguaçu e aquele corte de tecido. 

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