terça-feira, 28 de abril de 2015

Há um mês, Bebel morreu. Hoje, na escola, lembrei dela e tentei falar numa reunião com a equipe técnica... Cai no choro como qualquer guri orfão. Ela era uma amiga muito legal. Animada tanto para falar de algum filósofo alemão como Marx, Heidegger ou Kant como para pegar na enxada e capinar uma horta. Parceira para qualquer viagem, de carro ou ônibus, o entusiasmo era o mesmo, ia conversando muito e admirando-se com a paisagem. Serrava, costurava, martelava, cozinhava, pintava e bordava com a mesma alegria e rapidez que terminava cursos superiores um atrás do outro. Erudita intelectual e trabalhadora braçal no mesmo corpo e com a mesma importância hierárquica. Política de esquerda, incansável na luta, no trabalho formiguinha de base e no planejamento estratégico de cúpula. Conversava com o governador do estado no luxo do gabinete do Palácio Piratini com a mesma humildade, as mesmas roupas e as mesmas palavras que usava para falar com as mulheres pobres da favela na Ilha Grande dos Marinheiros na mais absoluta miséria. Seu escritório, geralmente era embaixo de uma árvore, mas muitas vezes a encontrei estudando, lendo e escrevendo a caneta, de madrugada e vestindo um poncho. Adorava uma novidade culinária e se deliciava, com gosto, com o doce mais fino ou a prato típico mais estrambótico que ela trazia de suas viagens em países distantes. Me apoiava em qualquer decisão e me defendia sempre que necessário, uma verdadeira companheira de lutas. Admirava muito essa pequena senhora, mas "Mãe" é a palavra perfeita para descrever essa que era minha melhor amiga.

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