domingo, 5 de abril de 2015

                                               Agradecimento

         Entrei nesta Universidade há 12 anos, no hoje longínquo 1987. Passei no disputado vestibular de Engenharia Mecânica, logo na minha primeira tentativa, surpreendendo meus pais, meus amigos e ainda mais a mim próprio. Fiquei felicíssimo. Adorava mecânica, admirava as máquinas e mecanismos, amava principalmente a máquina bicicleta, sua perfeição e beleza. Estudava aquela máquina com fervor. Minha disposição, no começo do curso, era a de uma locomotiva, nada podia me parar. No entanto, aos poucos meu ânimo foi se desfazendo. O curso estava bem distante de meus anseios. Era impessoal e virtual, estudava profundamente questões microscópicas, invisíveis e abstratas. Tudo que eu queria era estudar coisas palpáveis e com aplicações práticas positivas na vida das pessoas. As aulas começaram a se tornar extremamente aborrecidas e os dias pareciam ser todos nublados e frios. Meus colegas eram todos deprimidos e tinham os olhos toldados. Os professores eram igualmente sombrios e ameaçadores. Não, aquele não era o curso onde eu iria aprender o que queria saber.
         Passei a me perguntar onde conseguiria o conhecimento necessário para satisfazer meus desejos de adolescente. Encontrei a resposta na Educação Física, curso que, me falaram, era extremamente prático, ligado a realidade e poderia me ensinar muito sobre o motor da bicicleta: a biomáquina corpo humano. Esta foi a minha desculpa para entrar nesta faculdade. Sim, eu precisei de uma boa desculpa para trocar de curso. Para minha família, para a sociedade e até para mim mesmo sair da engenharia e entrar na Educação Física era um retrocesso vergonhoso.
Comecei meio de lado, cabisbaixo, fazia duas cadeiras por semestre, meio sem querer. Ao entrar, já no primeiro dia, senti uma diferença brutal. Era oito e meia de uma manhã fresca de um dia de outono ensolarado. A aula era ao ar livre, a claridade nos inundava os olhos e o sol nos enchia de energia. O cheiro de grama molhada pelo sereno e o canto dos quero-queros preenchiam a atmosfera. O professor Rangel falava com toda a calma e transmitia muita paz. Eu ignorava por completo o conteúdo da cadeira: Atletismo. Os colegas eram sorridentes, simpáticos e comunicativos. E tchê... Mulheres... Metade dos colegas eram gurias, e lindas! Estávamos todos felizes, as faces resplandeciam, que sonho. O clima destes primeiros dias, ou melhor, destes primeiros semestres era de um êxtase eufórico, onde tudo parecia ser possível e a alegria era quase materialmente palpável em enormes faíscas que saiam dos olhos de todos. De todas as comunidades de que participei, a ESEF foi, sem dúvida, a mais vivamente feliz.
            Onde está a competição entre os alunos? Onde está o massacre psicológico dos professores? Onde está a depressão e a preocupação? Onde estão as salas de aulas com cheiro de mofo, bibliotecas escuras, banheiros depredados e sujos, funcionários irritados e professores frustrados? Não, na Educação Física estas coisas eram saídas de um livro de ficção que ninguém tinha lido. Fui ficando, por prazer. Aos poucos fui me apaixonando pelo objeto de estudo e reconhecendo sua importância na sociedade. Meus preconceitos de outrora me pareciam cada vez mais absurdos e infundados. Hoje em dia acho o nosso curso o mais importante que há na universidade para a sociedade. Minha vergonha, por ter um dia pré-julgado mal os professores de Educação Física, aumentava na mesma proporção que meu orgulho por ser estudante de assunto tão atual e indispensável. Passei a ser um aluno entusiasmado e satisfeito, fazia dez cadeiras por semestre sorrindo. Entrei para um grupo de pesquisa com a professora Flávia e para a monitoria com o professor Pelé. A ESEF me introduziu a ciência junto com a gargalhada. O professor Mário sempre dizia, mas eu na época não compreendia: “Aproveitem ao máximo o tempo que vocês passam aqui, é o tempo mais feliz de suas vidas, não tenham pressa de sair.” Eu reforço o que ele diz, a ESEF é surrealmente feliz e eu sinto muitas saudades!
Venho então, por meio desta, agradecer. Agradeço a todos: colegas, professores e funcionários. Gostaria de o fazer individualmente, abraçar cada um, mas é difícil, ficaria muito emocionado, então escrevo. Agradeço pela amizade, pelos sorrisos, pelos abraços e beijos, por todo afeto, pela acolhida tremendamente carinhosa, calorosa e festiva que recebi de vocês. Agradeço também a consciência crítica, o saber e a curiosidade científica. E por fim, agradeço as gurias da ESEF, sua sensibilidade, competência, perfume, sorriso e alegria, sem falar nas alcinhas, rendinhas, rabinhos e todo aquele arsenal de coisas que só a mística feminina tem.
Muito obrigado pessoal!


         Tiago de Moraes Alfonsin

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