sábado, 12 de dezembro de 2015

Mais um textículo (1998) retirado das catacumbas do bolo de cartas,,,
Ontem foi um dia legal. Acordei as oito da manhã sem despertador. Olhei pelas frestas da janela e o dia estava molhado e frio, pensei: Oba! Não tem dia melhor para andar de bicicleta. Tomei café, dei uma folhada na Zero, ajeitei a bici, peguei umas bananas e sai. Nos primeiros minutos eu tremia de frio, mas por dentro eu estava contente e assobiando, sabia o que aquilo significava ali adiante. Logo eu estava quente e suando, os pedais pareciam super soltos e giravam com uma leveza entusiasmante. O ar agora estava fresco e puro, uma garoa finíssima jogava um spray nos meus óculos. Uma gota se formou na ponta do meu capacete e ali ficou. As vezes eu ficava vesgo e olhava para ela, ela ia de um lado para outro seguindo o balanço do meu corpo, mas não caía. Subi o Morro do Osso e desci pelo lado da Cavalhada. Não tinha ninguém nas ruas, única coisa que eu ouvia era o som dos pneus brincando com o asfalto molhado e a minha respiração -Sssss, fuu, sssss, fuu, sssss- As vezes penso alto ou cantarolo sozinho, who’d care, anyway ? Resolvi seguir para a “Boa”. A Boa é uma estradinha de terra que sobe serpentiando um morro que parece ainda estar um pouco esquecido pela modernidade. Comecei a subir lenta e pacientemente o lombão. Lá as galinhas correm espantadas da bicicleta e as vacas ficam te olhando passar desconfiadas. Um velhinho de chinelo de dedo e chapéu de palha capinava com uma enxada. O cheiro do lugar era aquele que mistura grama, terra e bosta molhadas, me vem na cabeça uma sensação de alegria, lá da infância. A cerração lá estava tão densa que os sons ficavam abafados. Coloquei os óculos na ponta do nariz para que não embaçassem, a essa altura já estava suando em bicas, que bom que estava bem frio ontem. A Boa é boa porque se demora muito para subir, que prazer que dá! -O ciclismo é um esporte que se desenvolve “contra o vento e lomba acima”, quem gosta destas situações, gosta de ciclismo. É contra o vento e lomba acima que os adultos se diferenciam das crianças, os fortes dos fracos, os tenazes e persistentes dos débeis e desistentes. Quando eu cheguei lá em cima, que beleza, dava para ver sobre a serração o Morro da Ponta Grossa e o Guaíba. Barbaridade, como eu sou feliz quando os sentidos ficam assim a flor da pele! Será que alguém já viu e sentiu todas estas coisas? I wish someone was there, so I could share. You might say: “-Share what? ...Huffing and puffing up hill? No tanks.” No, not that, but just that nice feeling of being alive.

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