terça-feira, 10 de dezembro de 2013

A Família como Sistema Adaptativo Complexo

Este artigo tenta demonstrar como os indivíduos, mesmo adultos, fazem parte de um todo maior, a família, ainda que longe dela. Para isto, faremos uso da estrutura de referência para sistemas adaptativos complexos de Axelrod e Cohen que tem doze conceitos centrais: sistema, agente, população, tipo, variedade, estratégia, padrão de interação, espaço conceitual, espaço físico, artefato, seleção e critério de sucesso ou medida de desempenho. Além destes ainda tentaremos identificar na família mais três conceitos melhor descritos por Coelho: atrator, auto-organização e adaptação.
A Família como sistema adaptativo complexo são sistemas compostos de um grande número de agentes que interagem uns com os outros para produzir uma estratégia de sobrevivência adaptada para eles mesmos e, portanto, para o sistema ou partes do sistema as quais eles pertencem.
 Os agentes da família são os membros dela: Pai e mãe, filhos e filhas, irmãos e irmãs, tios e tias, primos e primas, avôs e avós, netos e netas, sobrinhos e sobrinhas, sobrinhos-netos e sobrinhas-netas, tios-avôs e tias-avós, bisavôs e bisavós, bisnetos e bisnetas, primos e primas de segundo grau, padrastos e madrastas, meio-irmãos e meias-irmãs, enteados e enteadas, sogros e sogras, genros e noras, cunhados e cunhadas, concunhados e concunhadas, bem como agregados dos mais variados tipos além de animais de estimação. Sendo então a população todos os membros que sofrem a família. Os agentes ainda podem se dividir em tipos. Os tipos são agentes ou estratégias com características em comum que um observador externo pode achar relevante destacar. Genitor ou prole, feminino ou masculino, legítimo ou adotado, opressor ou oprimido, contribui com dinheiro ou não, ajuda no lar ou não e muitas outras. Uma maior variedade de tipos de membros da família garante a sobrevivência do sistema nas situações de crise, fazendo de cada tipo um agente fundamental para a perpetuação da família.
O modo como os agentes da família agem nas diversas situações domésticas para melhor manter a vida é a estratégia de cada agente ou grupo de agentes. Elas podem variar das simples sedução, punição e premiação até as mais sutis como o uso do medo, da corrupção e da culpa passando pelo desdém, o deboche e a arrogância. As estratégias são postas em prática nos diversos padrões de interação do cotidiano das famílias. A interação se dá através de conversas, brigas, atos e omissões, intrigas e alianças.
A família existe num espaço conceitual que podemos chamar de lar. Os agentes da família podem estar muito distantes fisicamente, mas ainda assim interagirem uns com os outros para aplicar suas estratégias de sobrevivência. O lar, portanto, independe de um espaço físico para que o sistema família sobreviva. Mas o espaço físico é onde normalmente os agentes interagem no cotidiano, ele pode ser uma caverna, uma oca, uma barraca de lona plástica, uma casa ou apartamento e até mesmo uma mansão ou castelo. Nem a família que viva na mais opulenta riqueza, nem aquela que sobrevive na mais simples pobreza, vai deixar de agir como um sistema adaptativo complexo num grande esforço de sobrevivência da família.
As famílias dispõem de diversos artefatos para melhor perpetuar a vida. Num espaço físico casa, podemos citar vários deles como exemplo. O banheiro, a televisão, a poltrona, o sofá, a rede, o aparelho de som, o telefone, o carro, o computador, o controle remoto são todos artefatos disputados pelos membros da família no seu cotidiano. Eles oferecem inúmeras oportunidades de interação em que cada agente pode utilizar suas estratégias. Ao longo do tempo as interações vão se padronizando no uso dos artefatos: o papai sempre senta na poltrona com o controle remoto nas mãos e a mamãe sempre prepara o jantar no fogão, os filhos nunca podem mexer no fogão e só podem sentar na poltrona se o papai não estiver em casa.
critério de sucesso numa família é se os agentes estão vivos e se estão se esforçando para perpetuar a vida. Assim a medida de desempenho é através da qualidade da comida, da qualidade do espaço físico, do tamanho da prole, da quantidade dos artefatos disponíveis, da qualidade dos parceiros afetivos que os membros arranjam, da quantidade de dinheiro que a família produz e muitos outros, todos tentando mensurar a capacidade que o sistema família tem de atingir o sucesso que é manter a vida.
Como o meio ambiente está em constante mutação, os agentes e as estratégias estão também sempre buscando uma melhoradaptação ao meio. As estratégias menos felizes em atingir sucesso serão logo descartadas. Mas algum agente que desenvolva uma estratégia de maior desempenho para atingir o sucesso se tornará um atrator para os demais. Assim, naturalmente ocorrerá uma seleção para os agentes e estratégias mais eficazes na obtenção do sucesso. Haverá, portanto, uma auto-organização do sistema na busca do sucesso, sem que para isto tenha se feito nenhuma regra supra sistêmica. Na família, em situações cotidianas na busca da perpetuação da vida, isto significa as mais diversas situações. Como exemplos: algum membro obteve sucesso sendo advogado, outros membros tentarão a mesma profissão; se algum agente feminino conseguiu engravidar numa inseminação artificial, outros tentarão o mesmo procedimento; se nenhum membro da família fez curso superior, outros agentes não terão tal preocupação.
Assim como o meio ambiente do indivíduo humano é sua família, o meio ambiente da família é a sociedade na qual está imersa. Todos os indivíduos da família estão sujeitos também a este super sistema. A família é a energia que anima o sistema capitalista.



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