quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Historietas

Nós fizemos outra greve este ano, durou oito dias, mas não vamos ter que pagar em dias como no ano passado. Nosso sindicato fez um bom acordo e uma das cláusulas dizia que pagaríamos os dias parados em conteúdos, o pessoal da educação, e em atendimento, o pessoal da saúde, até o final do ano. Eu participei do movimento ativamente, como sempre faço. Quanto mais velho e gordinho fico, mais sedutor me pareço, juro, é verdade. Como já fui de muitas unidades de ensino na rede, sempre fui conselheiro do sindicato e já falei em muitas assembleias, mal eu chego numa nova unidade para trabalhar no começo do ano e a conselheira titular já abre mão do posto a meu favor. Este ano aconteceu de novo. Não sei explicar bem porque, mas estou me tornando não mais um, mas "o" agente mobilizador da categoria. Algumas pessoas já vieram me falar isto textualmente: que eu é que decido se vai haver greve, quando ela começa e quando ela acaba. Fico sempre bem nervoso quando vou falar o que acho da situação nas assembleias, afinal tem sempre umas três ou quatro mil mulheres (e uns trezentos homens) me olhando, minha fala sai meio gritada e o pessoal entende como eloquência. Sou interrompido durante minha fala para ser ovacionado e depois as pessoas ficam me seguido nas passeatas, me dando tapinhas nas costas, dizendo que votam em mim para qualquer cargo que me candidatar e arremedando alguma fala minha tentando imitar o meu sotaque gaúcho: "- ...O VERDADEIRO SIGNIFICADO DA PALAVRA DIGNIDADE!" O pessoal da diretoria do sindicato vem me agradecer e elogiar a minha fala. Nas reuniões do conselho deliberativo antes das assembleias, todos querem saber o que eu vou dizer, existe um temor que eu discorde de alguma coisa, como já aconteceu. Depois de decidir um encaminhamento alguém comenta em voz alta, meio nervoso: "- Só falta o Tiago dizer para base...". Mesmo eu sendo só mais um peão da base da categoria a maioria já me percebe como o grande e sensato líder. O pessoal dos partidos ficam me sorrindo e me convidam para reuniões políticas. Ao mesmo tempo, outros que eram amáveis, fecham a cara e me olham como principal opositor ou concorrente, apesar de eu não ser candidato a nada, nem a diretoria do sindicato. Devem ser os cabelos brancos, as cãs, como diz minha mãe. Me tornaram mais probo, apesar de eu ainda ser aquele mesmo ribeirinho de sempre. Acho que se me candidatasse, coisa que não vou fazer nunca, eu também votaria em mim.
Agora é tempo de eleições para vereador e prefeito aqui no Brasil. O nosso sindicato dos servidores da prefeitura de Florianópolis lançou vários candidatos à vereança. Nenhum sou eu, ainda bem. Mas eu estava apoiando um do PT, só para não deixar de agir politicamente, cheguei a vender convites para o baile em favor da campanha dele lá na creche. Depois percebi que outro "companheiro" de sindicato, bem mais sensato, saiu pelo PC do B. Fiquei sem jeito de trocar, então somente sai de fininho da campanha oficial e estou fazendo campanha informal, boca em boca e ao pé do ouvido, para os dois. Até na cidade vizinha de São José (parece nome de cidade mexicana, né?), uma Viamão daqui, tem candidatos do nosso sindicato. Incrível é que o candidato a prefeito pelo PSTU de lá é funcionário efetivo da prefeitura daqui. Ele é muito engraçado, não porque conta piadas, mas pela forma como se apresenta. Está sempre de coletinho preto solto sobre o tronco nu, raspa os cabelos, tem tatuagens de surfista nos ombros, é bem orelhudo e usa uns brincos de argolinha na ponta do lóbulo. No debate da TV, assisti para cumprimentar ele depois, no meio dos engravatados ele só fazia denunciar os grandes banqueiros internacionais e seus planos capitalistas para explorar o povo de São José. Eu mesmo nem sabia que São José era tão importante! Segundo o candidato, um verdadeiro fulcro de interesse do capital mundial. Ele foi o centro das atenções no debate, claro. O PSTU é um partido muito engraçado mesmo, no debate aqui de Floripa, o candidato deles nem foi convidado porque o partido não tem sequer um representante no congresso nacional. Lá em São José eles fizeram aliança com o PSB e só por isso nós tivemos que ouvir o nosso orelhudo companheiro xiita careca na TV. Mas ele não é o único candidato esquisito das eleições.
Aqui na minha rua, numa casa antiga de esquina, tem uma tal Farmácia do Rafael. Tem um aspecto tão horroroso que quase ninguém entra na tal farmácia. Mas tem uma balança, bem a vista na porta, daquelas antigas de pesos em pêndulo. Todo mundo se atrai para a farmácia velhona com nome boboca para subir na balança na ilusão de se pesar. O ponteiro da balança leva umas duas horas para parar quieto. E quando está quase parando tu tens que respirar e ele recomeça a oscilar. Eu logo desisti de usar a tal da balança, é inútil, depois de vinte minutos tu sais com a informação de que estás mais ou menos entre 75 e 105kg. O atendente da farmácia é um baita gordão, fica atrás de ti, apoiado no gasto balcão, respirando alto, só olhando, não fala nada, é a curtição do dia dele ver alguém tentar se pesar ali. Pois não é que até o atendente sacana da Farmácia do Rafael resolveu se candidatar. Ele escolheu o PRP, um partido daqueles para quem não tem a menor idéia do que seja política, mas quer entrar nesta onda por que sabe que dá dinheiro. O nome dele é Alvimar. Temeroso de que houvesse muitos alvimares se candidatando, afinal é um nome bem comum, quase um João, ele resolveu especificar: Alvimar Gordinho. Ainda assim, achou que não ficava bem claro, poderia alguém se confundir de alvimar gordinho, Talvez uns três ou quatro alvimares gordinhos candidatos na eleição de 2008 na cidade de quatrocentos mil habitantes. Então, finalmente, o nome do candidato ficou: Alvimar Gordinho da Farmácia. Além de tudo ele é vesgo e usa óculos fundo de garrafa. Que espetáculo de candidato. Acho que vou votar no Alvimar!
Aqui na grande Florianópolis, além de candidatos esquisitos, tem uns pichadores engraçados. Lá em Porto Alegre tinha o Toniolo, lembra? Pichado em tudo que é muro ou monumento da cidade: TONIOLO, um bem grande, ou pequeno repetido várias vezes. No tempo em que se votava escrevendo numa cédula nas eleições, muita gente votava no Toniolo para o que fosse: Deputado? Toniolo. Vereador? Toniolo. Prefeito? Toniolo. O cara era um maluquinho conhecido pichador da cidade, mas era tanta propaganda do Toniolo que as pessoas só imaginavam um uso para o nome, queriam votar no irresponsável candidato vândalo, sem saber que era um pichador maluco. Talvez fossem os punks que votavam no Toniolo, a esperança é a última que morre, mas o tal do pichador Toniolo tinha sempre uma expressiva votação. Aqui não tem o Toniolo, mas por toda a cidade, inclusive bancos de ônibus, ponte Hercílio Luz, prefeitura, escolas, guaritas de salva-vidas, terminais de ônibus, viadutos ou em qualquer parede desavisada, está lá, orgulhosamente pichado, três iniciais. Parece o símbolo de alguma tribo, como o MTZ da antiga gangue da praça da matriz lá de Porto Alegre, nem sei se ainda existe. Mas não é MTZ que aparece aqui em Floripa, as três iniciais são outras, me parecem bem familiares, na primeira vez que vi quase cai para trás de susto. Aqui, as três letras pichadas são: T. M. A.. Minha oficina de bicicletas tinha este nome: TMA bicicletas de alta performance. Mas não fui eu que pichei, juro! As vezes é só TMA, as vezes tem uns desenhinhos ao lado. Então, sei lá quem é o tal do T. M. A., mas simpatizei com ele, acho que vou votar neste cara.
Agora nas férias de julho fui viajar com a namorada. Fomos plantar umas árvores num terreno que ela tem na praia de Itapiruba, no município de Imbituba, a uns cem quilômetros daqui. Itapiruba é aquela praia que não tinha nada além de uma vila de pescadores artesanais, até que construíram um hotel enorme de frente para o mar. Tão grande era o hotel que dava para ver da BR 101. Tão grande mesmo, completamente desproporcional ao vilarejo, que quebrou, foi abandonado e saqueado em tudo que não fosse tijolos e reboco. Agora é um esqueletão no meio do campo. Bom, continuando, depois de plantar fomos para a posada, largamos nossas coisas e saímos para caminhar na praia. Caminhamos para o norte e sem querer fomos dar em frente ao prédio do Projeto Baleia Franca. Nenhum de nós dois sabia da existência de tal instituição ali e só a percebemos porque tem uma enorme baleia de fibra de vidro na frente. Na porta dizia o horário: até às 18 horas. Já tinha passado dez minutos das 18, então ficamos redemunhando na porta, combinando de caminhar até ali no outro dia pela manhã. Mas eis que alguém abre a porta e pergunta se a gente quer entrar. Entramos, foram super gentis conosco, assistimos a um vídeo da baleia franca, como elas tinham sido dizimadas até não sobrar uma no Brasil e como agora elas estavam voltando. Depois nos ensinaram coisas e mais coisas das baleias, com muita boa vontade e disposição, finalmente nos orientaram onde era o museu da baleia franca e onde elas poderiam ser avistadas. Nós achamos aquele papo todo lindo, mas aquele negócio de ver baleias parecia ser muito distante e difícil. A ficha não tinha caído ainda. Baleia só pela TV, na Antártida. Saímos do prédio só às sete da noite.
Como tudo era ali pertinho, no outro dia tocamos para o centro de Imbituba, conhecer o museu. Nós não estávamos nos dando conta da real possibilidade de ver mesmo as baleias. O museu era todo sobre a matança e como elas foram dizimadas ao longo do tempo. Muitas fotos e histórias, muitos arpões e caldeiras onde a graxa se transformava em óleo. Achei legal a história de que os cidadãos de Salvador não gostavam de baleias, elas eram tantas por lá que não deixavam ninguém dormir tal era a algazarra que faziam na água, cantando e dançando noite adentro. O museu era na última estação baleeira do Brasil, que só foi fechada em 1973 porque não tinha mais nenhuma baleia no litoral. As baleias eram o petróleo da época, proporcionaram a energia necessária para o desenvolvimento das cidades. Usavam o óleo em espiriteiras para cozinhar, em lanternas para iluminar e como material aglutinante na argamassa para construções. Usaram até a última gota! A atendente do museu foi também super gentil e solicita, como as gurias do projeto e de novo nos estimulou e orientou onde poderíamos ver as baleias, vivas, no seu habitat natural, nadando, pulando, namorando, amamentando. Ficamos meio sem jeito de não ir ver o lugar onde elas todas estavam nos indicando. Ainda pensamos se íamos almoçar no centro primeiro ou se íamos conhecer a praia. Decidimos tocar para a praia da Ribanceira antes do almoço, afinal eram só uns instantinhos para constatar que não dava para ver mesmo. Além de tudo estava muito frio e ventando forte. Fomos mais para matar o tempo de férias, conhecer uma praia que ainda não conhecíamos. Ninguém da nossa geração acreditaria que realmente veria uma baleia viva no seu ambiente natural. Estacionamos o carro no fim da praia, ao lado do costão, e começamos a subir caminhando a trilha que levava ao mirante natural. No meio do caminho encontramos alguns turistas descendo a trilha. Perguntei, debochando: E aí pessoal, está dando para ver as baleias hoje, ou não? Para minha grande surpresa eles disseram: Tá dando, mas bem de longe, da para ver elas se mexendo na água. Só aí caiu a ficha, eu realmente poderia ver uma baleia. Eu já atravessei o oceano de navio, moro há seis anos em Florianópolis, passei a infância veraneando na beira daquele mesmo mar, já vi montes de pingüins e golfinhos, lulas, polvos, peixinhos e peixões, cardumes inteiros e até tartarugas gigantes nadando livres. Mas baleias nunca. Subi meio correndo, esbaforido, lá em cima não tinha ninguém, só o vento zunindo. Olhei em todo o entorno do costão, nada de baleias, só quinhentos surfistas, voltei e ajudei a namorada a subir a última pedra até o mirante. Sentamos ofegantes, meio desapontados num banquinho de madeira que tinham colocado ali para observação. Agora com mais calma, mas ainda suados, fizemos mais um giro com o olhar em toda a vastidão. Neste instante, trinta segundos após nossa chegada ali, ao longe, vi uma baleia saltar para fora d'água como num documentário da BBC. O corpo inteiro, gigante, todo para fora d'água, mesmo àquela distância podia ser visto com detalhes. Não é possível escrever com precisão a emoção que senti naquele momento. Com um grito de alegria, apontei para minha namorada onde estava e ela ainda viu o corpo caindo, esparramando água. Um misto de choro e riso descontrolado se seguiu. Eu pulava e gritava de prazer, sem tirar os olhos daquele pedaço de mar. Mais quinze segundos e outra baleia pulou também, no mesmo lugar, com a mesma magnífica exuberância da primeira. Este foi um dos momentos mais felizes da minha existência. Em um minuto de observação já tínhamos testemunhado dois saltos maravilhosos, pensei que teríamos um festival de baleias saltando. Ficamos mais uma hora e meia ali, até começar a tiritar de frio. Não vimos mais nenhum salto grandioso, mas vimos saltitos de filhotes, rabos, dorsos, cabeças, barbatanas e borrifos. Vou ver se não tem ninguém do Projeto Baleia Franca para votar.
Em março foi uma equipe das pequenas obras da prefeitura consertar um muro da creche que estava caindo e, ao saírem, deixaram toneladas de madeira, sobras da obra. Folhas de compensado, escoras de eucalipto, tábuas e ripas, tudo ficou ali, atirado. Juntei para as crianças não se machucarem e guardei tudo no subsolo. Então, nestas férias, me deu uma louca, além de plantar árvores e ver baleias, também dei uma de carpinteiro: Construí uma casinha na única árvore lá da creche. Ficou bem legal, mas não sei se vai agüentar o tranco da gurizada toda em cima. De um lado tem uma teia de cordas para subir, de outro tem uma rampa, e embaixo tem até quadro negro para desenhar. Acho que a construção desta casinha foi uma das maiores realizações da minha vida!
As gurias do quadro civil (é assim que chama mesmo, civil, eu sou do quadro do magistério) que ficam na creche durante as férias, não entendiam porque um professor estava ali. Trabalhando ainda por cima! Bom, enquanto eu estava lá fora trabalhando na casinha, as gurias da limpeza ficavam lá dentro limpando e limpando e limpando, nunca vi tanta limpeza. Uma manhã elas me chamaram: precisavam de ajuda para carregar um móvel velho que iria para o lixo. Estava sendo usado para armazenar os sacos de lixo de todos os tamanhos possíveis e imagináveis na lavanderia. Um novo armário tinha chegado e aquele não era mais necessário. Ajudei. Coloquei na rua o troço e na luz vi bem o que era. Um antigo arquivo de documentos, feito de madeira bem escura, daqueles com uma abertura corrediça, que desliza e vai se escondendo da frente para trás do móvel, fazendo uma curva por cima. Atrás uma etiqueta de papel do fabricante dizendo a data: 1964. Me apaixonei pelo negócio. Antigamente aquilo era o que havia de mais moderno, era o computador da época, onde se guardavam os documentos da repartição, empresa ou, no nosso caso, escola. Só tinha quatro prateleiras das 10 originais, mas a abertura funcionava perfeitamente e não tinha um cupinzinho sequer. Diante do meu entusiasmo as faxineiras procuraram e acharam no depósito as outras prateleirinhas. Telefonei para diretora e pedi de presente, já que ia para o lixo. Ela então disse que tinha mais gente interessada no móvel, mas que depois conversávamos. No outro dia ela esteve lá e eu fui pedir de novo. Ela então chamou o outro interessado. Pensei que fosse alguém da secretaria da educação, ou alguma outra professora da creche, alguém que compreendesse o real valor e utilidade daquele objeto. Mas não, o outro interessado era o único homem além de mim que trabalha lá, um dos faxineiros. Ele queria para por as roupas e coisas do filho recém nascido. Fiquei super sem jeito: eu, um professor que, aos olhos dele e das outras faxineiras, ganho super bem, moro sozinho e, acima de tudo, pedi o móvel depois dele, como poderia reivindicar algum direito sobre aquele lixo. É evidente que ele merecia mais o móvel que eu. Então tive a idéia: compro outro móvel, para roupas de criança mesmo, topas? Sim, claro! Aos olhos dele ele estava ganhando um móvel novo do nada. Aos meus olhos eu estava trocando um pote de ouro por uns espelhinhos e miçangas. Me senti um usurpador, me aproveitando da ignorância do cara. Mas tendo a diretora como mediadora do acordo e umas cinco faxineiras de testemunha, saímos todos satisfeitos. Fui correndo para o centro e na mesma tarde visitei todas as lojas da cidade que vendem móveis. Comprei, em dez prestações, o primeiro que achei com as características que o cara pediu. Fiquei feliz, ele também. Meu móvel é lindo, soquei dentro do carro da diretora para trazer para casa. O dele a loja ia entregar e montar em casa.
Teve um dia que saí com a turma do G4 (eles tem em média três anos de idade), correndo porta afora para o pátio. Chegando lá estava garoando, então chamei todo mundo de volta. Ninguém me atendeu, estavam todos agarrados na cerca, olhando um arco-íris. O troço estava perfeito, o mais perfeito, inteiro e nítido que já vi na vida. Começava no campinho atrás da creche e terminava atrás de uns prédios da vizinhança. Ficamos todos mudos olhando até o arco se desfazer, mesmo nos molhando um pouco na chuvinha. Eles embasbacados, sem entender direito o que era aquilo. Eu emocionado, não só pelo espetáculo do arco-íris, mas pelo tanto que aquilo os fez parar, como se fosse uma baleia saltando, um verdadeiro espetáculo da natureza. Agora já sei, com precisão, onde cavar para achar o pote de ouro. Fomos para sala e contamos para professora. Então sentamos todos pelas mesinhas para registrar aquele momento, pintamos em tela o arco-íris. Claro, o único quadro que ao final da atividade lembrava um arco-íris era o meu. Mas fizemos todos, orgulhosos de nossa produção, uma grande exposição no corredor. Difícil foi convencer depois as outras professoras de que eu não pintei um símbolo gay, mas sim um simples fenômeno natural. A gozação foi generalizada. Foi só mais uma ótima manhã no escritório.

Passados alguns meses, descobri o que a sigla “T.M.A.” pichada pelos muros da cidade quer dizer. Foi engraçado. Estava falando com o Ademir, o porteiro da tarde aqui do prédio, lá na frente do condomínio. Ele esperava ansioso o reinício do jogo de futebol que estava no intervalo. Seu time do coração estava jogando, então o rádio estava bem alto na guarita. O Ademir me contava que o Avaí estava para subir para primeira divisão, que gostava de ir ao estádio ver os jogos, mas que geralmente estava de plantão na guarita. Assim mesmo, ele paga, com seu micro salário, uma contribuição mensal para o clube e para a torcida organizada de que é sócio: a Torcida Mancha Azul. Ele abriu os botões do uniforme do condomínio e me mostrou, orgulhoso, a camiseta azul oficial da torcida que vestia por baixo. Estava lá, bem grande, em cima do desenho de um leão irritado: T.M.A. Ah! Então são vocês os vândalos! No intervalo do meio do jogo, os caras da rádio ficam fazendo alguma entrevista para encher lingüiça. Um dos repórteres falou: “Agora vamos ouvir o que o juiz Vladierrisson, do Ceará, está falando para os jogadores no centro do gramado antes do reinício da partida:” Imagino eu que o repórter veio por trás do juiz e o vladierrisson não percebeu que estava sendo gravado, porque ele dizia: “olha qui, seus viado, não quero saber daquela putaria do primeiro tempo, heim?” O repórter muito sério e compenetrado, rapidamente esclareceu: “Taí, então, estas foram as instruções do juiz Vladierrisson da Silva, do Ceará, aos jogadores para o reinício da partida!”

Nenhum comentário:

Postar um comentário