terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Oximoro

A expressão “desenvolvimento sustentável” foi criada pelas forças produtivas, no início dos anos setenta do século passado, para tentar mitigar o clamor da sociedade mundial diante da flagrante decadência do meio ambiente do planeta. Evidentemente, é um oximoro que tenta equacionar duas forças políticas opostas, o desenvolvimento econômico e a sustentabilidade ecológica do modo de vida humano proposto pelas próprias forças produtivas. A expressão tornou-se pública a partir da Conferência de Estocolmo, reunião de cúpula convocada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1972 na Suécia.
Desenvolvimento sustentável soa como uma coisa muito boa. Atualmente, a expressão é quase um mantra, pronunciado hipnoticamente por todas as correntes políticas. Mas, vamos observar com cuidado a expressão. O prefixo “des”, em português, tem o sentido de negação, separação, ação contrária. Desenvolvimento, então, é aquilo que não tem envolvimento, não deseja se envolver, quer se distanciar do envolvimento. O não envolvimento desta palavra se refere ao mundo natural. Quanto mais desenvolvido, mais separado da natureza, mais se nega o pertencimento ao meio ambiente comum a todas as espécies. Já a sustentabilidade busca exatamente o contrário. Reconhece a necessidade do envolvimento harmônico da espécie humana com a biodiversidade do ecossistema global. Em tese, o desenvolvimento sustentável seria algo que conseguisse ser ao mesmo tempo ecologicamente correto, economicamente viável, socialmente justo e culturalmente aceito.
A poluição do ar e dos mananciais de água, a grande extinção de espécies e a superpopulação humana, o aquecimento global e a modificação abrupta do clima, a degradação dos solos e diversas outras ameaças ao meio ambiente que o modelo de desenvolvimento econômico causou ao planeta e à humanidade, fez com que surgisse um movimento político de oposição a industrialização da economia em meados do século XX. Essa força política mundial conseguiu que a ONU organizasse em 1972 uma conferência internacional para debater o problema de proporcionar melhores condições de vida para a humanidade sem degradar o meio ambiente. Essa conferência colocou em lados opostos os países já industrializados e desenvolvidos contra os países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento que não eram industrializados.
Os países já desenvolvidos e industrializados gostariam que os outros países não se industrializassem, para preservar o meio ambiente do planeta. E, de outro lado, havia a posição dos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, entre eles o Brasil. Esses defenderam que o desenvolvimento deveria ser buscado a qualquer custo, para tirar seus povos, a grande maioria da população mundial, das péssimas condições de vida em que se encontravam.
Então, criou-se um impasse. De um lado, as nações desenvolvidas acusavam as subdesenvolvidas de não querer fazer sua parte para salvar o que restou do meio ambiente preservado do planeta. De outro lado, as nações subdesenvolvidas acusavam as desenvolvidas de não querer dividir a riqueza de seu desenvolvimento.
A posição do Brasil naquela conferência, de desenvolver a qualquer custo, inclusive o ambiental, parece, hoje em dia, um absurdo. Mas na época era compreensível. A população do Brasil sofria privações como falta de moradia, agasalhos, doenças e até fome e sede, coisas que para um país industrializado, não aconteciam. Era justo que o país buscasse se desenvolver para que seu povo atingisse o mesmo nível de conforto social dos países industrializados. Por outro lado, a posição dos países desenvolvidos, de não querer a industrialização dos países subdesenvolvidos para evitar uma degradação ambiental de seus territórios, parece boa atualmente, mas é essencialmente injusta, pois perpetua uma diferença social mundial gritante.

De 1972 para cá, a dificuldade de conciliar desenvolvimento com sustentabilidade só se agravou. A humanidade não conseguiu desfazer o oximoro do desenvolvimento sustentável. As duas posições da Conferência de Estocolmo continuam a coexistir. Mesmo a população mundial tendo se desenvolvido tremendamente nesses últimos 38 anos, também aumentou muito a degradação ambiental. As duas posições tinham parcela de razão. Ao mesmo tempo em que uma melhor condição de vida atinge as várias populações ao redor do globo, os sinais de uma mudança climática em escala mundial que ameaça até a sobrevivência da espécie humana são mais evidentes. Estamos na eminência de que o paradoxo do desenvolvimento sustentável seja finalmente decidido pelo próprio planeta.

2 comentários:

  1. Adoro este seu texto, muito bom! já compartilhei com algumas pessoas!!!

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  2. Gostei do título do seu blog. Comprei um livrinho e agora estou começando a lê-lo: Desobediência Civil, inspirou bastante o Gandhi. Acredito que o caminho é por aí, não dá para aceitar tanta LEI que só oprime. Por isso, viver é subverter sim.

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