terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Matrix
Não sei se já viste aquele filme Matrix, viste? Deves ter visto, fez muito sucesso há uns anos atrás. É uma ficção científica em que os seres humanos são explorados por máquinas para algum propósito que não me lembro mais, faz tempo que vi no cinema. O que ficou para mim do filme é que todos os humanos são mantidos juntos numa espécie de coma induzido, num transe coletivo, mergulhados pelados numa banheira de sopa primal e com o cérebro conectado a um computador gigante, vivendo uma vida virtual de um programa de computador chamado Matrix, somente dentro de nossa mente, mas que parecia extremamente real para todos. O Matrix é a nossa vida: família, desejos, carro, trabalho, praia, casa, contas a pagar, Paris, sonhos, sofrimento, etc. Algumas pessoas começam a encontrar sinais de que vivem neste programa de computador. Alguns, mais curiosos, seguem as pistas e começam a se dar conta da coisa toda. Mas muitos não crêem nas pistas, se deprimem, se revoltam com as provas que encontram e seguem acreditando no Matrix. As pistas são deixadas por pessoas fora do programa Matrix, hackers que entram no programa para subvertê-lo, para salvar os seres humanos daquelas máquinas opressoras e exploradoras. As pessoas que, apesar de atônitas e incrédulas com as verdades encontradas (conceitos que destroem todo o mundo hipotético em que vivem), seguem as pistas deixadas pelos seres humanos subversivos que vivem fora do Matrix, caem na realidade. Quando alguém finalmente admite que é tudo uma farsa, toma uma pílula vermelha e desperta do coma dentro daquela melequenta banheira de sopa primal e é logo removido de lá por um robô que joga o ser humano no funil de refugos. O que o computador não sabe é que os seres humanos refugados se ajudam mutuamente, se organizam para resistir e entram no programa Matrix para fazer com que mais seres humanos se dêem conta da farsa em que vivem para despertar para uma vida real. O filme todo é meio chato e violento, tem três horas de muita pancadaria e tiroteio. Mas, como metáfora, é maravilhoso.
Algumas pessoas dizem que o filme é riquíssimo de metáforas e analogias. Por exemplo: o personagem principal é um messias que veio para salvar a humanidade. Super sutil, não é?! Mesmo assim, o filme tem até uma legião internacional de admiradores que se reúnem para discuti-lo. Formaram uma espécie de seita que tem o filme como evangelho, até se vestem como os personagens, aquelas coisas. Não vais pensar que eu agora sou de alguma forma ligado a eles, tá? Não. Mas, tem muita coisa que acreditamos como se estivéssemos num Matrix. Exemplos: O melhor sistema político é a democracia representativa. Todo ser humano é dono de livre-arbítrio. O sistema prisional é um mal necessário em qualquer sociedade. Não tem como haver cidade moderna sem automóveis. A educação escolar é fundamental para o bom desenvolvimento do país. Família é a coisa mais sagrada que existe. Casamento é uma instituição fundamentada no amor. O movimento sindical é a forma que os trabalhadores têm de melhorar suas condições de trabalho e remuneração. Sem as indústrias voltaríamos ao tempo das cavernas. O esporte é a mais grata contribuição da modernidade a humanidade. A mulher só é bela se for magra. A religião... Bom, a religião vamos deixar para daqui um pouquinho, tá?
Estas são algumas das verdades, dos axiomas, dos dogmas da humanidade na atualidade. Conceitos que fundamentam qualquer sociedade. Há também as verdades situacionais, por exemplo: Barack Obama foi eleito presidente dos Estados Unidos. A maior parte da população do mundo acredita nestas coisas todas e todo mundo sofre um bocado com elas. Mas tem algumas pessoas que despertam do transe coletivo e param de sofrer.
O Valor mais importante da sociedade capitalista ocidental, o tal do Matrix, é a família e o casamento. Tanto que a Globo mostra uma novela atrás da outra, desde as três da tarde até as dez da noite, insistindo que nós temos que nos esforçar para encontrar um par perfeito, casar com ele, ter vários filhos e viver feliz para sempre. Quase ninguém consegue isto. Mas o axioma é de que isto é possível. Se alguém não consegue é porque não se esforçou o bastante ou fez algo errado. O sistema põe a culpa sobre o indivíduo de uma falha inerente ao próprio sistema. Todo mundo se sente um bosta por não conseguir ser “normal”.
O segundo valor mais importante da sociedade industrial é a competição. Tanto que os esportes são tidos como a panacéia para todos os problemas sociais: saúde, educação, salvação das drogas, inclusão, tudo! Não tem um telejornal que não nos lembre isto. Existem vários programas diários de esportes e não tem uma semana sem que o horário nobre da TV não seja ocupado por um, dois ou mais esportes. Fora os finais de semana que nós somos massacrados por dezenas de eventos obrigatórios, porque tu mudas de canal e eles ainda estão lá! O axioma é que tu tens que te esforçar muito para vencer na vida. De novo, quase ninguém consegue, mas todo mundo jura que é possível. Ainda assim, os maiores heróis do povo são os atletas de sucesso. E, de novo, se alguém não consegue é porque não se esforçou o suficiente. E, novamente, o culpado é o indivíduo, não o sistema. Mas igual, todo mundo se sente um merda se não vira um herói olímpico ou, pelo menos, que seu time não ganhe.
A democracia esmaga a opinião das minorias e sempre o eleito numa democracia representativa foi aquele escolhido pela grande massa ignorante de manobra. O eleito é o cabelo castanho e ondulado alisado por chapinha e pintado de loiro! Aliás, esse é o terceiro valor mais importante para a sociedade, capitalista: a beleza. A mesma história aqui. A massa vai com a onda, age como um cardume. Tenta ser normal, mas ninguém consegue e se sente um merda! O Hitler era extremamente democrático. Ele fazia vários plebiscitos para legitimar suas maluquices: Vocês querem ser o país líder do mundo? Siiiiim! Respondiam em coro os alemães ignorantes das intenções manipuladoras do plebiscito. Se formos democráticos em tudo vai dar muita merda e muita exclusão.
Tem muitos outros exemplos de “verdades” absurdas, mas não quero me alongar: Os caras põe na cadeia todo mundo que transgride há séculos, há penas cada vez mais pesadas para cada vez mais tipos de transgressões sociais, mas isto evidentemente não funciona porque há cada vez mais transgressores. Os muros das escolas são cada vez mais altos para as crianças não fugirem de lá e os pais são presos se não põe as crianças no colégio, mas cada vez menos crianças se motivam para aprender o que é uma melastomatácia ou como somar polinômios, porque Plutão nem é mais planeta e até a Jibóia perdeu o acento. Escola é uma coleção incrível de conhecimentos inúteis e serve só para ensinar a se resignar: Por mais que tu te esforces, não vais vencer na vida, ser belo ou ser feliz. E a culpa é sempre tua não é do sistema! Bom, já deu para sacar, né? O Matrix em que vivemos é osso duro de roer.
Mas, deixa eu te falar dos papos bíblicos que tive com minha mãe. Sabes que sou ateu? Nem sei tua religião, se é que tens. Mas eu gosto muito de relacionar tudo com Jesus, porque todo mundo conhece “Ele”. E “Dele” que vêm muitas das verdades da nossa sociedade. O Matrix, este caldeirão de dogmas e axiomas em que estamos imersos e que chamamos de cultura, é responsabilidade “Dele”, em grande parte. Alias, ele é o Matrix! Se tu achas que não, me explique? Na constituição está que o Estado é laico, mas porque, tanto na assembléia legislativa quanto na câmara dos vereadores, tem um baita crucifixo logo acima da cabeça do presidente da mesa? Minha mãe passou uns dias aqui comigo. Conversamos bastante, comentei com ela alguns filmes que tinha visto. Um deles foi aquele do Pedro. Tem nas locadoras, já viste? Esse foi o que mais rendeu debate. Fiquei impressionado que no começo Pedro não queria ajudar os gentios. Ele pensava: Amor ao próximo sim, mas não para esta gentalha impura que não é judia, né? Ele era super sectário! O Pedro parecia aqueles caras das castas indianas da última novela das oito, ele pensava: os dalith são impuros, não são nem gente. O significado de sectário, no meu dicionário Aurélio eletrônico aqui do meu computador, é: relativo ou pertencente a seita. Bom, Pedro era sectário! Ele achava que aquilo que Jesus tinha falado antes de morrer só valia para os Judeus. Só valia para a casta escolhida por Deus, no entender de Pedro, os judeus. Ele era judeu como Jesus e pensava que todo aquele papo de Jesus era: vamos salvar o nosso! Compreensível, claro, agia de acordo com seu Matrix, a cultura a qual estava imerso. Pedro era um cara do povo, pobre, ignorante, sem estudo, e o mais velho dos apóstolos. Mesmo tendo convivido com Jesus um tempão, não entendeu nada. Os jovens são revolucionários e querem mudar o mundo, mas muitos velhos querem manter o mundo como eles conseguiram construir durante a vida. Distorcem tudo que ouvem de tal forma que se encaixe no mundo que já está indo embora. Muitos velhos são sectários, conservadores. Toda vida Pedro ouviu aquilo de vamos salvar o nosso! Ele pensou que Jesus só tinha mostrado como. Mas Jesus não queria que ele pensasse assim. Comentei com a mãe aquilo do Pedro ser sectário que me impressionou no filme e ela, imediatamente, lembrou de Atos 10, 1-48: Pedro teve uma visão com um banquete de comida, só comidas que os gentios comem, mas os judeus não podem comer. Somente comidas que um sectário judeu chamaria de impuras e não tocaria. Na visão, Pedro era convidado a comer. Pedro logo entendeu que aquela visão tinha sido enviada por Deus para fazê-lo entender que não existia este negócio de impuro, todo mundo é igual, puro, e o sectarismo é uma cagada.
Só minha mãe para lembrar-se de cabeça, com Alzheimer e tudo, uma passagem bíblica que se relacionava com o que eu percebi no filme. Sectarismo é uma coisa que grassa com grande velocidade no movimento sindical. É o que eu estou vivendo agora: ataques de sectários de todas as seitas possíveis e imagináveis. Nossa chapa saiu vencedora do pleito para eleição da diretoria do sindicato e a base da nossa categoria tem mais de nove mil trabalhadores. Cada um dos nove mil tem suas crenças diferentes, suas seitas. Cada um é sectário de uma forma diferente, e quer que o seu sindicato pense de acordo com aquelas crenças. Cada um que me encontra na rua faz um discurso de como a nova diretoria deve agir! Nós temos a difícil missão de tentar “consensuar” todas as seitas em torno de um pensamento comum: o bem do servidor. Mas, uma coisa comum a todos os nove mil é que eles querem que o sindicato seja um salvador messiânico que venha para salvar suas vidas da opressão. Nunca a salvação depende do esforço deles mesmos, o sindicato é sempre falado na terceira pessoa, alguém que cai do céu para salvar a plebe. O sindicato tem que fazer alguma coisa! É o que mais se ouve. Parece uma oração, como: Deus vai ver nosso esforço e há de ajudar! Ou, agora que ganhamos a eleição, eles falam na segunda pessoa! Eles sempre me dizem algo como: Olha Tiago, o que tu tens que fazer lá é o seguinte:... Segue uma baita prece, cheia de pedidos, uma verdadeira reza. Ou então: Ô, Tiago, Vê se tu não consegues para mim... Alguma súplica. Eu me tornei um messias há muito aguardado. Aonde chego todos vão me seguindo, o povo se reúne ao meu redor para ouvir meu sermão.
Dizem que minha mãe anda esquecendo de tudo, concordo em parte, pelo menos da sua atividade de teóloga ela ainda não esqueceu nada. Voltando ao meu dicionário eletrônico, procurei teologia: Estudo racional dos textos sagrados, dos dogmas e das tradições do cristianismo. É isto que minha mãe faz. Mesmo ela sendo católica fervorosa, tendo muita fé, ela consegue separar a paixão por sua religião, o sagrado, o dogma, o inquestionável, da razão que analisa o texto de um livro escrito por seres humanos, a bíblia. Então, ela foi além, lembrou de mais uma passagem bíblica relacionada com minhas preocupações atuais. Ela lembrou que o próprio Jesus era sectário. Sim, Jesus! Ele mesmo! Feito homem, Ele sente fome, sede, dor, medo, dúvida e erra também, como qualquer ser humano! Minha mãe lembrou do momento que Jesus é convertido. Conversão, no Aurélio, é: A rejeição ou aceitação pública de certo número de atitudes. Pois tem um momento descrito na bíblia que Jesus rejeita sua própria seita, se percebe sectário e, imediatamente, muda de opinião, se converte para a “não seita”. É difícil para um cristão passional, que aceita e louva tudo que diga respeito a Jesus sem questionamentos, encontrar defeitos humanos na sua divindade.
A bíblia é um livro que reúne somente alguns escritos – poucos, dos muitos que havia – cuidadosamente escolhidos ao longo da história por seres humanos sectários como qualquer um, para ser um meio de promover um fim desejado por aqueles poucos sectários em posição de escolher. E mesmo aqueles poucos textos escolhidos para compor a bíblia, o livro sagrado que não deve ser questionado jamais, foram cuidadosamente editados de tal forma que distorcessem as idéias originais para um fim sectário. E olha que os textos originais, as idéias originais, já tinham sido escritos por algum sectário que ouviu falar. Até lá, até na bíblia, o livro mais distorcido da história, o livro mais corrompido do mundo, até lá se admite a humanidade de Jesus.
Bom, está lá para quem quiser ler: Marcos 7, 1-30. Numa determinada ocasião, Jesus estava a desmascarar uma série de hipocrisias das seitas daquele tempo, de uma certa forma, o que ele pregava era a “não seita”. Mas, ao mesmo tempo, sem perceber, Jesus era extremamente sectário. Ele estava cansado, tinha viajado muito, não queria ser incomodado, mas uma mulher pede para Jesus ajudar a salvar sua filha. As mulheres eram nada naquele tempo. Menos que o cocô de um homem. Se mulher já era nada, mulher criança então! Aborrecido, Jesus manda ela voltar depois porque ele e os apóstolos estão descansando e se alimentando e não era legal levantar da mesa para atender primeiro um cachorrinho. Os judeus chamavam de cães os estrangeiros, por serem impuros, não serem gente. Uma mulher era uma cadela e sua filha uma cadelinha, um cachorrinho. No Aurélio (é útil este negócio de dicionário, não é?) Cachorro, é: cão novo e pequeno. A fala da mulher, depois que ele manda ela pastar, é que finalmente converteu Jesus a “não seita”. O que ela diz, mais ou menos, é que até os cachorros, que nem são humanos, comiam as migalhas que caiam da mesa dos judeus. Ou seja, as mulheres deveriam ter pelo menos os direitos dos cães! Os excluídos só têm acesso às sobras dos incluídos. Jesus percebeu, através da fala da mulher, a magnitude da injustiça que acabara de cometer. Percebeu que justo seria se todos fossem incluídos na mesma mesa e que esta coisa de seita é uma barbaridade, uma coisa animal, uma coisa de cão.
Legal, não é? Para mim fica claro que Jesus gostava muito de mulher, pois prestava muita atenção nas suas demandas. Claro que sua relação com as mulheres foi negligenciada nos escritos que chegaram até nós porque as mulheres eram nada e continuaram nada por muitos séculos depois. Os homens é que tinham acesso ao estudo, ao saber ler e escrever. Os homens é que tinham poder de decisão sobre o que seria lido dali para frente. Os homens é que decidiam como “foi” a história. Nenhum homem ia escrever sobre o nada. Acho evidente também o fato de as mulheres serem mais sábias que Jesus em algumas coisas, pois elas em muitas ocasiões, por serem as oprimidas e excluídas da época, que abrem os olhos de Jesus para as situações de exclusão e opressão que Jesus se propõe a acabar, mas nem Ele enxergava. Também é evidente para mim, que só uma teóloga, uma mulher, como minha mãe, não um teólogo homem, poderia enxergar estes detalhes bíblicos. E veja só: Jesus fazendo injustiça? Sim, Ele era um ser humano, como qualquer outro. Percebe? Ele não era Ele, era ele! Quem fez dele Ele, foram os homens sectários que escreveram o Matrix depois. Jesus se percebia falível e, humilde, mudava de opinião quando errava.
Bom, findo o estudo bíblico de hoje, vamos ao sindicato. Vamos falar um pouco sobre o porquê de se filiar e fazer as coisas que o sindicato decide, como greve. Antes mesmo de tu te filiares, o sindicato já era teu sindicato. Um sindicato é a união solidária de todos os trabalhadores de alguma instituição. Mesmo se não fosses sindicalizado, se a coisa aperta para o teu lado é para lá que iras correndo chorar. Sindicato é o que Jesus pregava: ser solidário com o próximo, ajudar no que puder para libertar o povo da opressão. No Aurélio eletrônico está que cristão é: aquele que professa o cristianismo, que é sectário dele. É verdade! Sectário dele! Juro, vai lá no Aurélio ver! E cristianismo é: o conjunto das religiões baseadas nos ensinamentos, na pessoa e na vida de Jesus. Tu vês que coisa: Jesus nunca disse para fazer uma religião, como está no dicionário, ele só dizia para fazer o que ele pregava. Então, neste sentido, ser filiado e fazer greves é ser sectário do cristianismo! Fazer greves chamadas pelo sindicato, mesmo não se percebendo injustiçado, é agir conforme os ensinamentos de Jesus. Jesus ensinou o povo a não se omitir diante da injustiça, é o que se deve fazer.
Pois é, me tornei quarentão, sabias? Mas ninguém me dá mais que 39! Acho que meu segredo, é:
1-Nunca se case, é uma coisa extremamente estressante que só serve para comprar TV 42 polegadas mais rápido (custa só metade da prestação). Depois ficam os dois se estressando sobre o que vai ser assistido naquela caríssima fonte de brigas.
2-Trabalhe o mínimo possível, trabalho é uma besteira total que só serve para pagar as prestações da TV 42 polegadas que tu tanto querias, mas só gerou frustração porque não tem nada de bom para assistir.
3-Ande bastante de bicicleta, dá para andar horas sem cansar muito e se vê ao vivo e grátis o que se veria pela TV 42 polegadas engordando sentado em casa.
4-Ria muito lembrando ou contando as piadas que ouviste no segundo grau e na faculdade e que não passam naquela maldita, caríssima, frustrante e engordante TV 42 polegadas digital!
É, acho que é este meu segredo. Mas eu ainda hei de comprar uma TV 42 polegadas... Sou humano. Mas exige coragem não casar, o Matrix assim exige! E é o valor mais importante da sociedade! É difícil se perceber um ser integro, inteiro, não uma metade dependente de outro para ser feliz. Tem que ter coragem de ir contra as seitas do mundo que nos cerca, deixar de seguir os mandamentos sectários, se converter a “não seita”, como fez Jesus.
Ao longo da vida todos mudam. Sabe aquele negócio do Hipócrates (acho que era ele que dizia isto, não lembro bem): Não se pode entrar no mesmo rio duas vezes. É porque o rio muda a todo instante, são outras águas, apesar de ser sempre o mesmo rio. Nosso corpo e mente também. Casamento não tem como dar certo. A chupeta que tu gostavas aos dois anos de idade, agora já te constrange. O punk rock que tu achavas o máximo dos prazeres na adolescência, agora já te da dor de cabeça. Então tu pensas que agora és adulta e sabes escolher as coisas? Erro! Seja humilde e admita, até Jesus admitiu erros maiores. Tu pensavas que serias feliz para sempre e está longe disto. É ridícula aquela promessa do casamento de que vai se ficar pra sempre com a mesma pessoa. O rio muda, as pessoas mudam. A pessoa com quem tu casas hoje, amanhã já não é a mesma porque isto é impossível! E tu também não serás o mesmo! Alias, pensando bem, até tem como um casamento dar certo. Millôr Fernandes dizia que o casamento que não deu certo é aquele que não acabou. Concordo com ele. É uma instituição estimulada pelo capitalismo. Tu, se és sindicalizado, deves saber: é uma farsa. O casamento foi um contrato social inventado para passar para as gerações seguintes as posses. Como os pobres não tinham posses, não casavam. Madalena era companheira de Jesus, mas não casada com ele, porque os dois eram nômades e pobres. É uma bobagem dizer que se um relacionamento acaba não deu certo. Ao contrário, deu muito certo, tanto que acabou quando um percebeu que o outro teria que se sacrificar em favor da relação, se anular. Quando há respeito e amizade, quando se percebe que o outro vai ter que abrir mão de suas características peculiares para permanecer juntos, estar juntos passa a ser um desrespeito a individualidade do outro, uma ofensa. Tu vês, percebes qual a causa de 100% dos divórcios? O casamento.
A gente sofre quando se separa porque nasce! Nasce do útero que é um relacionamento, um casamento. Ao nascer do relacionamento, sair de dentro dele, te dá muito medo, é normal. Como um nenê que nasce e acha que não vai sobreviver fora do útero. Afinal, o útero do relacionamento te dava tudo que precisavas. Sair de dentro do útero te deixa bem mais frágil, assim como o nenê que até emagrece, mas te permite crescer. Nascer te permite ser um individuo independente e te liberta da opressão do útero que te envolvia. Nascendo tu podes abrir os braços e as pernas e ver o mundo com teus próprios olhos. Aos poucos tu te flagras até contente, sem medo, confiante, obtendo prazer em simplesmente estar só, de poder escolher o que ver na tv. As crianças pequenas se sentem tão contentes de ter nascido que pulam e correm felizes sem nem saber explicar por quê. Coitados daqueles que se sacrificam em prol de um mandamento sectário de uma seita que distorceu completamente as idéias de Jesus. Jesus não pregava o casamento, ele pregava o amor ao próximo, a solidariedade. Quem prega até hoje o casamento são os sectários que vieram depois para distorcer tudo, os capitalistas e os religiosos. A Globo! Tanto isto é verdade, que se tu quiseres casar podes fazer na Igreja (distorções descaradas dos escritos antigos) e no civil (o estado capitalista de direito), as duas instituições que mantém o Matrix, a cultura imposta goela abaixo, o status quo. Eu como sindicalista tenho que agir de forma cristã (não a cristã distorcida, mas a verdadeira, contra a injustiça social), ser solidário, não posso me omitir, tenho que te falar. Espero que tu tenhas logo uma visão, como Pedro teve a do Banquete, para perceber que ser sectário não tem nada a ver. Ou um cachorrinho venha te dizer alguma coisa para ti te converter, como Jesus se converteu, a “não seita”. Ao não casamento sectário!

As mulheres ensinaram Jesus, o tornaram não sectário. Algumas me ensinaram também. Eu já fui sectário a respeito de casar, ter filhos, não ser subversivo ao status quo. Mas cada uma que eu cruzava me ensinava algo. Me converteram. Mas eu posso te ajudar também, e é isto que estou tentando fazer. Como já disse, Jesus ensinou o povo a não se omitir diante da injustiça, a ser solidário, a amar o próximo, é o que se deve fazer. Espero ter conseguido com esta mensagem. Para um ateu que não crê em Jesus, até que eu falei bastante dele nesta carta, não é?

Um comentário:

  1. Afinal, tu é ou não sectário? Todo sindicalista é sectário. Minha opinião, pois somos levados a crer em muitas coisas como se estivéssemos num Matrix, principalmente acreditar que sindicato defende interesse de trabalhador.

    Veja o diálogo entre Neo e Morpheu no filme Matrix:

    Neo: O que é Matrix?
    Morfeu: Você quer saber o que é Matrix? Matrix está em toda parte [...] é o mundo que acredita ser real para que não perceba a verdade.
    Neo: Que verdade?
    Morfeu: Que você é um escravo,
    Neo. Como todo mundo, você nasceu em cativeiro. Nasceu em uma prisão que não pode ver, cheirar ou tocar. Uma prisão para a sua mente.

    Sugestão para teu próximo post: Pelo que lutam os sindicalistas

    Um grande abraço.
    Paulo Dornelles

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